Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

 
Jordish.png


Os estranhos habitantes de Jordish
 
Olof nunca tinha aceitado bem a ideia de se fazer uma parada no planeta Jordish na sua jornada para Endel. Afinal era uma viagem interplanetária de 27 anos e o grande objetivo era Endel. Por que fazer esse “stop” insensato, com um objetivo não claramente definido? O motivo dado, bem vago, fora um incidente que ocorrera com uma das naves da Confederação das Américas há 187 anos atrás, e que nunca teve uma explicação razoável. Ainda assim, o Conselho aprovou, por unanimidade, a inclusão de Jordish na missão. Aparentemente, o computador mestre da missão, o MCSME2519, também conhecido como Vedalt, concordava com eles. De qualquer forma, não importava a opinião de Olof. O que tinha de ser feito, iria ser feito.
Logo na terceira órbita ao redor de Jordish, a tripulação conseguiu detectar a enorme e  famosa nave estelar Ultracosmos, a primeira a atingir velocidade próxima à da luz, e que havia ficado retida em Jordish. As circunstâncias tinham sido bastante estranhas. Ninguém jamais entendeu como uma nave, equipada com a mais alta tecnologia, tinha ficado silenciosa de repente, e completamente sem ação. Tecnicamente, era impossível de se entender.
Vedalt já estava trabalhando com toda sua capacidade para “escanear” o planeta. Visualmente  era possível se detectar com nitidez a grande planície onde estava estacionada a imponente Ultracosmos. Podia se notar uma longa linha no chão que ia dela até uma cadeia de pequenas montanhas, situada a cerca de cinco quilômetros dali. Era uma trilha que mal se notava, provavelmente por causa de poeira acumulada durante décadas. A nave de Olof, a Lightstream, já estava se aproximando. Depois de alguns minutos já estava estacionada a cerca de um quilômetro de sua “colega”. A equipe que devia fazer a inspeção da nave, colocou seus trajes espaciais, uma vez que a atmosfera de Jordish era tênue, além de conter gases prejudiciais ao ser humano. Com um veículo especial, dirigiram-se até a enorme nave. Ela tinha mais de duzentos metros de altura. Havia várias entradas, todas destruídas. Foi fácil. Abandonaram o veículo e começaram a inspeção. Não demorou muito para perceberem  que estava ali uma simples carcaça. A nave havia sido depredada. Todos os equipamentos haviam sido retirados. O que imediatamente deixou todos surpresos, foi que tudo havia sido retirado com cuidado, com precisão cirúrgica. Os danos estruturais eram mínimos, mas não havia uma só peça que havia restado. Obviamente seres inteligentes haviam estado ali. Como? O planeta era inabitado, pensava Olof, e certamente o resto todo da tripulação achava o mesmo. Ficou claro que era inútil terminar a varredura. Olof ordenou, então, que Vedalt esquadrinhasse completamente a enorme estrutura para ver se encontrava algo que se parecesse com alguma peça de nave que ele tivesse em seus dados. O resultado era o que todos esperavam. Nada. Seth ponderou que alguma nave, que não pertencia à Terra, deveria ter passado lá e “confiscado” todas as peças, na esperança de encontrar alguma tecnologia não dominada por eles. Argus achava isso pouco provável, uma vez a Terra teria notado em suas patrulhas interplanetárias qualquer objeto capaz de tal tipo de navegação. Seria muito difícil se chegar a uma conclusão. A inteligência artificial da nave, Vedalt, disse que não havia dados suficientes para dar uma opinião, pelo menos por enquanto.
Não havia muito o que fazer. Olof deu ordens a Vedalt para que iniciasse o processo de retomar a grande empreitada para Endel. O computador disse que ainda estava colhendo dados de Jordish e que partiria em 7 horas e trinta minutos.
No horário marcado, Vedalt acionou a nave que, antes de partir, fez mais cinco órbitas ao redor de Jordish. Questionado por Olof, Vedalt respondeu que precisava escanear o resto do planeta. Olof pensou consigo mesmo que aquilo seria uma inutilidade, mas não falou nada.
Lightstream já tinha alcançado sua velocidade ideal quando Vedalt advertiu Olof que tinha acabado de analisar todos os dados de Jordish e que queria fazer uma apresentação. Novamente, Olof questionou interiormente por que perder tanto tempo com um planeta vazio e uma nave sucateada, mas novamente manteve seus pensamentos para si mesmo. Como tinha de mostrar gráficos e mapas, Vedalt chamou todos para uma espécie de “anfiteatro eletrônico” que não era muito distante da sala central de comando.
Após dez minutos de “conferência”, estavam todos de queixos caídos. As revelações de Vedalt  eram absolutamente inacreditáveis e assombrosas. Jordish continha vida inteligente e não eram seres invisíveis, não. Eram menores que os seres humanos, bem parecidos, embora tivessem um segundo par de braços. As quatro mãos tinham seis dedos cada, sendo que dois deles em cada uma, funcionavam como polegares. Eles viviam no subsolo. Cavernas enormes, em incrível quantidade, de até  cinco quilômetros de altura e centenas de quilômetros de extensão, eram seu habitat.  Muitas cavernas continham água e havia canais de interligação. Havia cerca de novecentos milhões de habitantes. A estrutura de transporte e habitação sugeria uma alta taxa de civilização e inteligência, equivalente a pelo menos a que a Terra tinha por volta do ano 2200 DC. Havia vários tipos de animais, a maioria parecida com répteis, embora houvesse outros tipos também. Havia uma espécie de luz natural, algo que Vedalt não tinha dados suficientes para explicar. Vedalt tinha também notado cerca de 470 “saídas” para a superfície, todas inteligentemente “disfarçadas”. Eles também teriam de usar equipamento especial para vir para a superfície. Lá embaixo, havia oxigênio, misturado com alguns gases que lhes eram essenciais para a vida. Havia captado também mensagens inteligentes entre eles e uma sofisticada rede de comunicações.
A grande surpresa, Vedalt deixara para o final. A Lightstream quase havia sido capturada durante sua curta visita. Eles tinham equipamento capaz de “congelar” todo o sistema de propulsão. Foi o que fizeram com a Ultracosmos. Foram eles que “canibalizaram” a nave, no intuito de obter tecnologia. Dessa vez, porém, queriam pegar a nave intacta, para descobrir coisas que não tinham descoberto antes. Iam utilizar o elemento surpresa, enquanto parte da tripulação da Lightstream estava fazendo a inspeção. Não esperavam que Olof fosse  encurtar o tempo de visita e passasse a tarefa de escanear para Vedalt, acelerando todo o processo.
Esses computadores quânticos eram programados para terem reações e atitude humanas, para facilitar a interação com a tripulação. E foi por isso que Vedalt fez um comentário do qual Olof definitivamente não gostou. Disse em tom de brincadeira que, “por ironia, a falta de curiosidade científica de Olof, desta vez, foi a salvação da Missão Endel”,  e que, às vezes, “a preguiça também é compensada”. Olof não gostou, mas também não respondeu. Seria dar muita importância para Vedalt.
Por dentro, Olof deu um suspiro de alívio, e comentou, rindo com alguns da tripulação, que aquilo não tinha sido sorte. Era intuição. Ele sempre tivera esse dom. Falava isso de um jeito que não se podia dizer se era brincadeira ou se estava sendo sério.
Seth, por sua vez, comentava que o homem também tinha começado nas cavernas, mas tinha conseguido sair. Seria irônico, milhões de anos de evolução depois, ser capturado por “seres” da caverna, novamente. A essa altura, com todos aliviados e em seus lugares, a Lightstream já tinha atingido sua velocidade máxima: era um rastro de luz no infinito do Cosmos...
 
0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o
=====================================  
Imagine um país que vai de São Paulo até o Uruguai, numa outra realidade. Imagine agora que este país foi dominado pelos alemães e agora são seus habitantes. Esta nação é GERMÂNIKA e pertence a um universo paralelo ao nosso.
Leia GERMÂNIKA, disponível no Amazon.


Clique aqui para mais informações


 
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 23/11/2020
Alterado em 23/11/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras