Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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Um passageiro teimoso


 (ou o estranho acidente com o voo Varig 820)


Faltavam apenas alguns quilômetros para o voo Varig 820 chegar a Paris em sua escala para o destino final em Londres. Um incêndio começou no banheiro. Os tripulantes, ao mesmo tempo em que tentavam conter o fogo, instruíram os passageiros a ficarem sentados e com os cintos afivelados. Foi tudo muito rápido e a aeronave, um Boeing 707, fez pouso forçado num campo de cebolas a 4 quilômetros de Orly. O teto todo havia sido queimado e os passageiros estavam mortos, não pela queda, mas por causa da fumaça tóxica. Salvou-se parte da tripulação que se trancou na cabine do piloto. Foram 123 as vítimas, sendo delas 7 tripulantes. Das 11 pessoas que se salvaram, dez eram tripulantes e apenas um era passageiro.
Um jovem de 27 anos, Ricardo Trajano, desobedecendo às ordens das comissárias, soltou-se do cinto, correu para a parte da frente, e deitou-se próximo à cabine de comando. Havia uma pequena camada de ar respirável junto ao carpete. Quando os bombeiros chegaram, conseguiram agarrá-lo e levá-lo ao hospital. E por isso ele é o único passageiro sobrevivente. Ficou dois meses se recuperando.
Ironicamente, o comandante do voo, Gilberto Araújo, ainda na Varig, desapareceu junto com seu avião de carga, em pleno Pacífico, no trajeto Tokyo-Rio, seis anos depois, em 1979. Parece que o destino já tinha suas cartas marcadas. Uma tragédia igualmente estranha, pois nunca se soube o que aconteceu, nada do equipamento foi recuperado, algo raro na história de desastres aéreos.
Um ano depois da catástrofe de Orly, aquele jovem de 1,90 de altura aproximou-se da funcionária da Varig em uma de suas lojas, no Hotel Copacabana Palace, e explicou que ele havia comprado uma passagem para Londres, mas o “o avião caiu e eu não cheguei lá”. Alegou que tinha direito a uma nova passagem. Imediatamente a surpresa moça concordou e emitiu um bilhete aéreo. Afinal de contas, a Varig era uma companhia séria.
Às vezes a gente precisa ser teimoso, persistente, e não desistir só por causa de um pequeno acidente... Afinal, ele tinha um destino e decidiu que tinha de alcançá-lo.
 
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 16/02/2020


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