Uma fábula moderninha
O Falcão acordou cedo e, como fazia todos os dias, foi até o banheiro. Olhou para o espelho, como sempre fazia, para ver sua cara de quem acabou de acordar. Para seu espanto, entretanto, não era sua cara que estava ali. Era um emoji. Aquela carinha de felicidade rindo para ele. O que lhe veio à mente, em primeiro lugar, foi a ideia de que alguém havia lhe pregado uma peça. Passou a mão pela face, esperando sentir alguma textura plástica de uma possível máscara, maldosamente colocada em sua cara durante a noite. Que nada, o que sentiu foi exatamente o que sentia quando tocava sua pele. Não, não era uma brincadeira de mau gosto de algum amigo. Além disso, assim que seus dedos tocaram suas bochechas, o emoji mudou de felicidade para susto. Outro emoji. Imediatamente veio à sua mente a palavra “surreal”. Agora entendeu bem, bem mesmo, o significado da palavra que tinha, por coincidência, aprendido há alguns dias atrás. Surreal. Podia ser um pesadelo, mas era muito, muito real.
Logo a seguir, pensou em acordar a mulher, a Tâmara. Ela sempre tinha alguma boa explicação para tudo. A única preocupação era que ela levasse um susto muito grande com sua aparência. No entanto, essa era a única coisa que podia fazer, por enquanto. Acendeu a luz, aproximou-se e cutucou seu ombro. Quando ela se virou, lá estava nada mais, nada menos que um emoji. Ela não acordou, ainda bem. Uma cara de zangada. Meu Deus, aquilo não era pesadelo, não tinha explicação. Talvez fosse castigo para o fato de ele ficar tanto tempo no computador, mandando mensagens para todo mundo, sempre com um emoji. Voltou para o espelho e agora sua cara era de “tímido”.
Não sabia o que pensar. Ainda bem que logo começou a sentir um sono extraordinário. Estranho, pois tinha dormido a noite inteira. Voltou para a cama e quando encostou a cabeça no travesseiro, já estava dormindo de novo.
Não dormiu muito. Quando acordou, não tinha mais corpo, só aquela carinha simpática de emoji. Nem nome tinha mais, não se lembrava de mais nada. Estava lá, agora com aquela carinha de amor, grudado numa tela de celular. Viu que alguém o olhava. Esse alguém tinha acabado de escrever uma mensagem e, quando ele menos esperava, veio com aquela setinha e clicou nele. Sentiu umas cócegas e, quando percebeu, já estava em outra tela. Acho até que era em outro país. Um outro rosto sorridente clicou de novo nele. Agora as cócegas foram menores, quando a setinha o cutucou. E lá estava ele de volta para a primeira tela. A mesma pessoa, de novo, toda feliz com a sua volta. O Falcão, que agora nem sabia mais que antes era Falcão, lembrou-se de sua mulher, que ele não sabia mais que era sua mulher. Lembrou-se de que ela era um emoji de zangada.
Ele não sabia qual a razão, mas isso fazia lógica. Ela sempre fora muito raivosa. Isso mesmo, acho que era isso. Depois de mais alguns cliques, ele não se lembrava de mais nada. Só ficava viajando de tela em tela, levando sempre junto sua carinha de apaixonado.
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