Americano adora colocar aviso em tudo. Desconfio que há um motivo para isso. Quando você fizer algo errado, não pode dar aquela desculpa esfarrapada: “Eu não sabia”. Está tudo informado, notificado. Existe até uma palavra, “Posted”, que, traduzida de uma forma bem liberal, quer dizer: “Está avisado que foi avisado.” Ou seja, o aviso é para valer, para ser seguido. Não que os outros não sejam. Se você se deparar com um terreno, pequeno ou grande, com uma placa dizendo que não é para entrar, não entre. Aposto que junto com a advertência estão, bem claros, o parágrafo e o artigo em que a mesma se fundamenta. E junto com tudo isso, “Posted”, ou seja, está avisado, está escrito, não há desculpa. Talvez eles tenham ouvido falar de nosso “jeitinho” e tenham medo de que a praga “pegue” por aqui também.
Pois bem, um dia desses estou dirigindo para um local, pela primeira vez, para dar uma aula de Português. Vejo do meu lado esquerdo uma placa com um lindo pavão. Acho que todos são lindos, mas aquele desenho era mesmo caprichado. Exuberante. Claro, a autoridade de trânsito está avisando que é para guiarmos com cuidado, pois ali pode passar, eventualmente, um pavão. Pensei comigo, que exagero! Talvez a cada dois anos, um Fasianídeo, ou seja um “Pavo cristatus vulgaris”, desfile pela passarela, quero dizer, pela pista. Estatisticamente aquela placa era um exagero. Era uma rua cheia de casas, dos dois lados. Certamente aquelas belas aves há muito tempo não passavam por ali. Continuo absorto em meus pensamentos, tentando achar uma maneira mais fácil de ensinar minha aluna americana como pronunciar os sons “nh” e “lh” de nossa querida língua. Que dificuldade: mais difícil do que a análise sintática da minha época de professor estadual. Estava pensando também em achar uma forma mais definitiva de explicar que nosso “H” é mudo e não aspirado, como em Inglês, quando, finalmente, aquele carro da frente, que estava quase parado, vira à direita. Percebo, então, o porquê da demora. Bem ali, à minha frente, um lindo pavão. Calmo, soberano, terminando de atravessar a rua. Consciente de que todos obedeceriam à placa que indicava a sua presença. Por uma estranha associação de ideias, lembrei-me de Saramandaia, da Globo e da encantadora música “Pavão Mysteriozo”. Bons tempos. Fiquei ali, parado, esperando ele terminar a travessia. Subiu os degraus da calçada e adentrou o jardim de uma das casas. Ele não tinha nada de misterioso, mas que ele era majestoso e confiante, isso sim, ele era.
Por outro lado, decidi que jamais duvidaria de uma placa novamente. Nem que ela não venha acompanhada de “Posted”. Placa é placa, foi criada para ser respeitada, nem que ela seja misteriosa...
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