Estava lendo umas notícias e, por acaso, meus olhos bateram no título: “SP tem dois arrastões por volta do mesmo horário com 2 km de distância”. Pode até parecer banal, comum, apenas mais uma nota que se lê nos jornais, na Internet. Depois, porém, fiquei imaginando um viajante do tempo, de repente, jogado em São Paulo. Ele veio do passado, de algumas décadas atrás. Tenho certeza de que iria ler a notícia umas dez vezes e ficar absolutamente na mesma. Não teria a menor ideia do que poderia ser um “arrastão”. Ele certamente conheceria a palavra, mas nesse contexto, com esse significado, tenho certeza de que seria para ele algo surreal. Se alguém lhe explicasse com paciência, ele talvez entendesse, mas, garanto, iria ficar incrédulo. Mais incrédulo ficaria ainda com os “2 km de distância”. Eu ainda não consigo acreditar e olha que eu sou daqui e de agora. Dois quilômetros? Se fosse de congestionamento, embora bizarro, seria fácil de entender. Mas dois arrastões a menos de 2 km de distância? Depois de muita e detalhada explicação, depois de considerar a relatividade das coisas, etc., ainda teríamos mais um problema. “No mesmo horário”? Uma coisa dessas, absurda em sua própria essência, ainda mais numa amplitude dessas, já é algo sem precedentes. Depois ainda temos de enfiar goela abaixo de nosso viajante do passado que aconteceream dois desses ao mesmo tempo? Aqui e agora, para nós já é difícil de aceitar, imaginem para o nosso atônito visitante.
Na mesma página está lá outra “bomba”: “Mulher é presa após atear fogo no cão e divulgar no Facebook”. A única coisa normal na frase é que ela foi presa. O resto é incompreensível. Quem bota fogo num animal? E ela mesma divulgar uma barbaridade dessas no Facebook? E para explicar para ele o que é “Facebook”? A bárbarie humana, de certa forma, sempre existiu, mas “traduzir” o que é Facebook, vai ser uma empreitada quase impossível.
Melhor fecharmos os olhos de nosso viajante antes de virar a página. Imaginem só ele dar uma olhada na parte de política. Explicar o que algumas pessoas estão fazendo nessa área... Eu desisto, não sei como fazer isso. Além disso, nosso viajante do tempo não iria entender mesmo. Iria pensar que tinha viajado para outro planeta e não para outra época.
A crônica acima não faz parte do livro abaixo
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