Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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A prova dos nove
(ou “A Matemática não é uma ciência exata”)
 
Juanita sempre dizia que o nove era seu número de sorte. Qualquer dia algo extraordinário iria acontecer e tudo por causa do nove.
Naquele dia, uma segunda à tarde, seu marido Júlio tinha saído um pouco mais cedo do trabalho. Um ano de casamento, claro que merecia uma comemoração. Um pingente de ouro numa caixinha, no bolso, esperava ele fosse alegrar o coração da esposa. De uma vez por todas apagar aquela mania de achar que havia outra mulher na vida dele. Imagine, além de muito sério, Júlio jamais faria algo horrível assim, logo no primeiro ano de matrimônio. Todo feliz e lampeiro, ele para na esquina da rua de casa. Lá havia uma floricultura e ele tinha acabado de ter uma grande ideia. Perguntou para Jonas, o florista, se era possível arrumar um buquê só com nove rosas. Claro que sim, o freguês é quem manda. Enquanto o rapaz preparava o pequeno arranjo, Júlio escrevia uma cartão. Tudo pronto, seguiu para casa, logo ali.
Alguns minutos antes, imaginem que coincidência, passou por ali o Pinda. Rapaz chamoso, sempre exibindo aquele ar de conquistador, comprou três rosas. Ele não precisava de muito para agradar sua nova namorada. Ele, por si  só, já era o agrado, pensou. Ele era metido mesmo, isso sim ele era. Assim que saiu da floricultura, passou bem à sua frente uma verdadeira gata. Ele não teve dúvidas, aproximou-se dela e começou a conversar. Foi com aquele ar de galanteador que ele sempre exibia. Disse que a viu de longe – que mentira – e não pode resistir, Comprou três rosas, pois, segundo ele, ela era três vezes mais bonita que qualquer mulher daquela cidade. Ela aceitou, meio a contragosto, mas saiu com pressa, deixando-o para trás. Pinda, que era muito sábio com as mulheres não se preocupou. Qualquer dia desses, completaria o serviço. Sabia que ela morava ali mesmo naquela rua. Falou “ciao”, metido a italiano, que era para impressionar e se despediu. A nova namorada teria de esperar pelas flores. Tinham ficado para outra ocasião. O importante era não perder aquela oportunidade.
Juliana era o nome da quase nova conquista do Pinda. Enquanto ela ia para casa, encontrou a Juanita no caminho. Elas eram quase  vizinhas. Eram de dizer apenas  “Olá, como vai?, mas diante da cara de felicidade da Juliana com três flores na mão, perguntou o que  tinha acontecido. Ela só falou que alguém se apaixonou por ela de repente, deu-lhe três lindas flores e ...
 
Juanita pensou que garota de sorte, ganhar assim três flores de um estranho. Ficou ali no portão, esperando o maridão chegar. E ele chegou com um lindo buquê de flores na mão. Beijaram-se, ela estava feliz. Ela sim tinha alguém que a amava de verdade. Daí comentou que não era todo dia que ganhava uma dúzia de rosas. Ele respondeu que eram nove. Antes mesmo dele explicar o que achava óbvio, nove era o número de sorte dela, a Juanita teve um ataque de fúria. Fez a conta dos nove. Doze menos três são nove. Ele havia tirado três rosas para dar para a vizinha. Safado. E ainda vem com essa cara de apaixonado. Jogou as flores na cara dele e o expulsou de casa. Ele foi para um hotel aquela noite. Tentando, de todas as formas entender a mulher. Coitado, quem consegue entendê-las? Afinal, a Matemática não é uma ciência exata.
 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 11/08/2014
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