O bambino descansa no mar
O “bambino” Luigi e seus dois irmãos mais velhos, Angela e Nicola, já estavam em pleno mar, rumo a uma terra desconhecida. Seus pais, Giuliano e Pellegrina, tinham sonhos para eles e para os filhos. Talvez trabalhar duro em uma fazenda de café, mas, depois, terem uma vida melhor, um pedaço de terra, onde pudessem plantar uva e, quem sabe, fazer vinho. Sabiam do Brasil pela propaganda que o governo fazia para atrair imigrantes. Um vasto país, de natureza soberba e cheio de oportunidades para todos. Mesmo que a realidade não fosse perfeita, o sonho precisava ser, e eles sonhavam. Sonhavam até pelo pequeno Luigi. Iria crescer saudável, estudar, ser uma pessoa importante. Já o imaginavam em roupas elegantes, talvez um doutor, contando a história de seus pais imigrantes italianos em algum jantar festivo.
Poucos dias se passaram antes de o destino decepar cruelmente a fantasia. O navio Caffaro, como todos os outros, não tinha as melhores condições de higiene que se podia esperar. O bambino adoeceu gravemente e seu coraçãozinho parou de bater. Era o mês de março de 1893.
Como se costumava fazer, colocaram seu corpinho inocente em um saco de lona, costuraram-no, fizeram as preces de despedida e o lançaram no mar. Uma viagem triste, o triste começo de um sonho. Os outros chegaram e, a duras penas, venceram. Tiveram mais um filho no Brasil e lhe deram o nome de Luiz, para homenagear o pequeno que se fora. E o Luiz, brasileiro, teve quatro filhos, um deles, a minha mãe.
Por isso, parei por uns momentos, para escrever esta pequena homenagem ao “bambino”. Quem sabe sua alminha inocente dê um ligeiro sorriso lá nas profundezas do mar, onde descansa de uma jornada que mal começou. Descanse em paz, querido bambino, descanse em paz.
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Novo lançamento no Clube dos Autores:
Essa vida da gente
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 29/06/2014
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