Flávio Cruz

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Shakespeare e o perfume das palavras

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“Aquela que chamamos rosa, com qualquer outro nome teria o mesmo perfume." Foi o que Shakespeare escreveu em “Romeu e Julieta”. E ele, é claro, estava certo.  Uma palavra não vai mudar a essência de uma coisa.  Devo dizer, porém, que o oposto também é verdadeiro. Uma palavra tem seu valor. Ela tem sabor, essência, independentemente da coisa ou pessoa que ela significa. Ela tem sua própria força, sua própria cor, sua própria vida. Você nunca se deparou com uma palavra cujo significado não conhece? Pois bem, mesmo sem sabê-lo, esse vocábulo causa algum impacto em sua mente, dependendo da sua experiência de vida, da maneira como você vê a existência. Quando você ouve a palavra “selanteio”, mesmo sem saber seu sentido, alguma coisa ecoa em sua mente. Alguma sensação boa ou má, alguma lembranca. Talvez por associação, talvez por causa dos sons. È a palavra pela palavra. Na verdade, essa palavra não existe. Melhor ainda, ela passou a existir agora, embora apenas no reduzidíssimo universo desta nossa crônica.
As palavras têm vida, têm sabor, têm cor, têm personalidade, independente do que elas significam. Pense numa palavra bem simples como “estrada” e por alguns instantes fique repetindo-a. Você vai perceber que ela tem seu próprio caráter, seus sons independem de seu significado. É assim com todas elas. Uma prova disso é que uma mesma palavra, conforme o contexto, pode significar coisas bem diferentes. Ela é quase um instrumento.
É por isso que ouso dizer “Qualquer palavra, independente da coisa que significa, tem seu própria perfume”. Claro, se o Shakespeare dissesse isso, teria mais valor e certamente ele diria de um jeito mais bonito. Também ninguém vai querer competir com o  Shakespeare...
 

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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 10/10/2013


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