Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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Eu e o espelho
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Existe, dentro de mim, um velho ranzinza. Fica falando, o tempo todo, que não somos nada. Um espirro do Universo. Um momento de consciência, um momento ligeiro de inteligência, expresso através de nossa criação. Um suspiro da essência  suprema. Uma concessão. Logo a seguir, teremos ido, nem saberemos mais o que fomos, ou para que viemos. Um nada que existiu durante uma fração infinitamente pequena. Uma fração de tempo em que uma luz, quase pálida, chamada vida, sobreviveu.
Existe também, dentro de mim, um menino faceiro. Pretensioso, moleque, que pensa que sabe. Que pensa que, com a consciência de que existe, pode se perpetuar, ser infinito. Ser um espelho de Deus, com vontade própria e poder de decisão. Tem certeza de sua importância, do absoluto representado pelo seu existir.
Eles ficam, o tempo todo, brigando dentro de mim. Não conseguem se entender. Não conseguem achar algo em comum. E eu fico, apreensivo, olhando o final se aproximar. Não sei tem razão o velho ranzinza, se está certo o moleque travesso.
Enquanto isso, enquanto esse drama não se resolve, olho no espelho. E procuro, diligentemente, traços que provem que fui feito à imagem e semelhança de Deus.
 
Quem sabe? Preciso ter a esperança, pois o velho e a criança um dia vão partir. E daí, vão ser apenas, eu e meu espelho. E todo o infinito, que está por trás dele, vai enfim se identificar.

 
 
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 09/09/2013


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