Fim da Inocência
Na sala, todos conversam. Há algo pesado no ar. Alguma coisa, certamente não muito boa, aconteceu. Uma senhora, posso jurar, tem lágrimas furtivas escorrendo pela face branca. O velhinho não chora, mas pode se perceber uma tristeza profunda em seu peito. Com os anos aprendeu a disfarçar as emoções, boas ou más. A moça, nervosa, dá passos curtos, para lá e para cá. Um jovem, quase homem, franze a testa. A preocupação é visível. Há também soluços, mas não se sabe de quem. Há um mal que não se vê, há uma dor soturna, pairando, agressiva, no ar. Morte, doença, uma desgraça qualquer? Não se sabe, não se pode perguntar. Contrastando com todos, no chão, está uma criança a brincar. Não sabe de nada, nem pode saber. Seu tempo de tristeza ainda não chegou. Brinca, inocente e alheia, sobre o carpete vermelho. Está até sorrindo, distante da maldade. Lá fora, pela janela, flores podem ser vistas brilhando sob o sol. Elas, tal qual o menino, de nada sabem, e continuam a brilhar. São o que são, são assim. O menino, porém, ao contrário delas, um dia vai aprender a chorar o choro dos homens... Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 06/07/2013
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