Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Deus ex machina
 
A enorme esfera, mais de 500 metros de diâmetro, apareceu de repente, sem ser notada, sem ser percebida. Nenhum dos sofisticados observatórios a viu chegar do espaço, nenhum instrumento sísmico registrou sua possível saída do subsolo. Não estava lá num momento e, de repente, noutro momento, estava.
Durante três dias, cientistas, estudiosos, homens do governo, exército, aeronáutica, se aproximaram daquele distante ponto no deserto para tentar descobrir alguma coisa. Era obviamente de metal. Conforme o ângulo pelo qual se olhava era como se fosse de aço inoxidável, ou era de algum metal desconhecido, ligeiramente azulado.  Não emitia sinais. Entretanto nada ou ninguém conseguia chegar a menos de 967 metros de distância. Se era aparelho, parava de funcionar. Se era gente, desmaiava. Parecia haver uma barreira invisível. Por cima, aviões ou helicópteros, nem pensar.
Todos os meios de comunicação fervilhavam com notícias. Líderes políticos, religiosos, folósofos, teólogos, todos davam sua opinião. A verdade é que ninguém sabia nada.
No quarto dia após sua chegada, às 11: 37 am, horário de Londres, algo aconteceu no mundo inteiro. Todas as pessoas, todas, não houve uma só exceção, sofreram uma espécie de transe, que deve ter durado alguns poucos minutos. Quase imediatamente, o mundo mudou. As pessoas começaram a agir de maneira completamente diferente. Todos sorriam, conversavam, tentavam ajudar os outros. Não havia mais dor, sofrimento, angústia ou tristeza, traição. As pessoas se esqueciam das coisas más do passado, das suas e das outras  pessoas. Todos estavam em êxtase. Os problemas todos começaram a desaparecer diante do fato que todos se ajudavam. Os portões das prisões foram abertos, os doentes começaram a se sentir melhores, pessoas caminhavam longas distâncias só para dizer que perdoavam. Nem se lembravam mais do  que estavam perdoando, mas perdoavam. Muitos cantavam nas ruas. Os doentes saíam curados dos hospitais, as pessoas que tinham armas, traziam-nas para as praças para serem recolhidas e incineradas.  Havia uma coordenação mundial, natural, toda dirigida para o bem.


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Os meios de comunicação começaram a espalhar que Deus tinha chegado. Era isso. Não poderia haver outra explicação. Os líderes religiosos abandonaram suas convicções e começaram a falar em um único Deus, igual, pai de todos e que queria o bem e a felicidade geral. A esfera passou a ser apenas considerada como um símbolo, um sinal, um marco. Ninguém nem sequer pensou em adorar ou cultuar o grande objeto. O importante era fazer o bem, todos sentiam que Deus estava em todo lugar, estava dentro de cada um.
No planeta Gudaval, a 5678 anos-luz da Terra, o conselho dos “maiores”, liderado por Klokman, estava iniciando o grande encontro. Sabiam que a “esfera” tinha sido teletransportada com sucesso para o Planeta Terra. Sabiam também que a “limpeza cósmica” dos habitantes tinha sido acontecido com perfeição. Gudaval era pelo menos 30.000 anos mais adiantado que a Terra. Eles também tinham sido ajudados  por outra civilização, superior a eles,  há cerca de 28.000 anos.

O avanço em todos os campos da atividade humana iria agora ser acelerado pelo menos cem vezes. Em cerca de 100 anos a Terra poderia, finalmente, fazer parte do seleto grupo de civilizações interplanetárias de primeiro grau. Estariam então, mais perto de Deus. Aquilo era só o começo. Por enquanto, o que tinham experimentado, era ainda o “Deus ex machina”.

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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 22/06/2013


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