Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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Porque sim


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Silvana era uma boa esposa. Nenhum defeito extra, nada que outras não tivessem também. Joaquim era um bom sujeito também. Para ser mais acurado, a Silvana tinha sim, algo um pouco diferente. Era um pouco exagerada, um pouco dramática. Tudo virava uma grande coisa, uma grande causa.  Tempestades em copo d’água eram sua especialidade, mas tormentas fazia sem copo e sem água também. Assim era a Silvana.
Um dia, sabe-se lá por quê, o Joaquim soltou uma bomba, quando chegou em casa. Disse, assim,  mais nem menos, que estava indo embora. Demorou um pouco para ela entender. Como assim? Embora, como? Joaquim foi curto e incisivo:
-Vou embora, quero divórcio. Não temos filhos, o pouco que temos pode ficar para você.
E isso foi tudo, não explicou mais nada.
A Silvana soltou uma ladainha enorme de perguntas. Ela mesma dava as respostas e fazia novas perguntas:
-O que aconteceu? Alguma mulher? Isso mesmo, você conheceu alguma vagabunda por aí. Só pode ser isso.
O Joaquim continuava impassível. Parecia um marinheiro em alto mar, já acostumado com as tormentas. E a Silvana não parava. Ela não lhe agradava mais? Queria alguém mais jovem? Ela gastava muito? Coitada, tinha tanta coisa que ela queria e nunca teve. Isso não podia ser. Estava com problemas existenciais? Crise de meia idade? Só podia ser outra mulher. Ele não levava jeito de quem tivesse outra mulher, mas quem pode saber? Quem era, o que era? Alguma coisa com ela, com a sua Silvana? Alguma fofoca, alguma mentira?
E o Joaquim, sério e silencioso. Verdade é que, se ele quisesse responder, teria dificuldades, pois não havia intervalo para comercial, a Silvana não parava por mais de um segundo. E continuou, continuou, perguntando e respondendo ao mesmo tempo. Não se sabe se era o desespero, ou se ela tinha finalmente encontrado a tempestade perfeita.
O Joaquim sempre se perguntava, antes disso, o que a Silvana faria, se um dia houvesse realmente um problema, que drama ela criaria. Ali tinha ele a resposta.
Depois de mais uma série de perguntas, ela estava ficando finalmente cansada e desesperada e parecia realmente querer ouvir uma resposta. Terminou esta última sequência de perguntas com três dramáticos “por quês”.
-Por quê? Por quê? Por quê?
E parou. Olhou para o Joaquim e parou, aguardando uma resposta. Esse, depois de se certificar que ela havia parado e, efetivamente estava dando espaço para que ele pudesse responder, olhou bem para ela e falou:
-Porque sim.

Levantou-se, pegou suas coisas e partiu.



Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 14/06/2013


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