Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

A atriz que deveras sente

 
Lá vai a bela atriz para o palco, sentir o que não podemos sentir. Sente por nós, fala por nós, chora por nós. Quase uma oração, “ora pro nobis”. Tudo aquilo que sentimos e não sabemos falar. Tudo que falamos mesmo sem sentir. E, como disse  o grande poeta, finge sentir o que deveras sente. Por nós e por ela mesmo. Sente, sentida e com sinceridade, a nossa insensibilidade.
Nossas tragédias, nosso ridículo de todos os dias, e o eterno ridículo de nossas vidas, tudo ela mostra em seu encenar, que é puro sentir. Para que não precisemos rir de nós mesmos, ri por nós. Para que não precisemos chorar por nós mesmos, chora por nós. Daí nos emocionamos e choramos e rimos com ela. Tudo isso sem saber que estamos rindo o nosso próprio riso, chorando o nosso próprio choro. E ela faz tudo isso com propriedade, com seriedade, e com uma graça que só ela pode exibir.
Ainda bem que existe a atriz. Assim posso me ver chorando e rindo, posso ver meu pranto, meu drama, e meu ridículo no palco, e fingir que tudo aquilo é com ela, a atriz, e não comigo, apenas espectador desse mundo, que é só dor, dor sem fim. Assim posso ser feliz. Obrigado, minha querida atriz, por você existir!

 
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(homenagem simples para todos os atores e atrizes, e especialmente para minha nora, mais filha que nora,  a Mirella)
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 23/03/2013


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