Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Uma nau portuguesa


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Era uma linda manhã e o pequeno vilarejo perto de Ankara, Turquia, amanheceu agitado naquele dia do longínquo mês de Março de 1821. Quem olhasse para o lado norte, iria notar que, entre as árvores, havia aparecido um objeto enorme, de um marrom escuro,  que se sobressaía no meio do verde da pequena floresta. Não estava lá no dia anterior e agora estava.
Três camponeses resolveram chegar mais perto. E foi aí que viram algo que, para eles, era mais incrível que um fantasma. Uma enorme nau portuguesa, um patacho, com a maioria das velas rasgadas, lá estava imponente, no meio do bosque. Estava ligeiramente tombado para a direita, parcialmente sustentado pelas árvores. O casco ainda estava úmido. Um dos camponeses umedeceu os dedos na madeira da embarcação e levou-os aos lábios. Como esperava, sentiu um gosto salgado. Mais tarde, mais pessoas chegaram e a notícia se espalhou pelo vilarejo. Ninguém tinha uma explicação para o fato e imediatamente começaram boatos fantásticos, embora o fato por si só dispensasse qualquer exagero nas narrativas. Alguns, mais corajosos, entraram na embarcação. Não havia quase carga nenhuma e o que havia estava completamente estragado. A maioria dos observadores tinha medo de se aproximar pois temia-se  algum tipo de maldição.
A vila foi dormir sem uma explicação para o mistério. Fizeram-se planos para o dia seguinte. Especulações é que não faltavam. De manhã, logo cedo, todos foram tomados de surpresa. Havia sumido a embarcação tão misteriosamente como havia surgido.
Durante décadas o evento foi comentado, recontado, reinventado. Com o tempo passou a ser uma lenda, depois uma história para crianças. Ninguém acreditava mais naquilo. Entretanto, aconteceu.
Naquele mesmo dia, muito longe dali, a muitos quilômetros da costa de Portugal, em direção ao sul da África, uma pequena armada lusa foi tomada de surpresa por uma misteriosa tempestade. Uma tempestade sem água, só com trovões, relâmpagos e ondas violentas.  A luz dos raios era tão constante e forte, que durante quase uma hora nada se via, só uma claridade insuportavelmente forte e ruídos ensurdecedores. As naus todas balançavam fortemente e eram invadidas pelas águas do mar, porém um pingo sequer vinha do céu. Finalmente tudo se acalmou, mas já era tarde da noite e a escuridão era total. Com a luz do sol, pela manhã, os marinheiros começaram a verificar os estragos. Eram bem menores do que se esperava. Entretanto, um dos navios estava faltando: um patacho.  Foi ordenada uma busca e cada embarcação foi para um lado à sua procura. Nada foi encontrado: nem o patacho, nem os tripulantes, nem quaisquer restos.
Durante muito tempo essa história foi contada e recontada por marinheiros. Com o tempo virou uma lenda, uma daquelas loucas histórias que se contam para passar o tempo nas longas viagens marítimas. Ninguém mais acreditava nela...Só restaram duas estranhas lendas.

Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 18/03/2013
Alterado em 18/03/2013


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