Uma colcha branca (suspiros de uma viúva...)
O Júlio se foi. Não me abandonou não, ele me amava muito. Ele foi para o outro lado. Dá até um nó na garganta quando falo isso. A casa ainda tem seu cheiro, seus traços, acho que a alma dele ainda está por aqui.
Leio, arrumo as coisas cá e lá, tento dar um novo jeito naquilo que não tem jeito. Às vezes dou um soluço, daqueles bem fundos, assim do nada, sem avisar.
Já faz algum tempo e ainda coloco a mesma colcha na cama. A mesma que estava lá, naquele dia fatídico, quando, sem aviso prévio, seu coração resolveu parar. É linda, branca, toda trabalhada. Ele olhava para ela e falava assim: “Gosto da sua colcha de retalhos...” Eu ficava zangada e replicava: “Seu tonto, esta colcha não é de retalhos, não...”
-Mas é tão bom de falar...toda colcha devia ser de retalhos...
E ria. Aquele sorriso gostoso, debochado, que eu não tenho mais.
É por isso que não troco mais a colcha. Qualquer dia destes, quem sabe, Deus faz um milagre, e ele vem me agarrando por trás, beijando meu pescoço, falando da minha colcha...Talvez eu consiga juntar, de novo, os retalhos de minha vida...
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 05/03/2013
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