Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Poeta louco, língua insana


Minha língua gostosa. Língua de falar. Também tenho a língua do paladar. Tenho o “tu” para te dar importância, as vezes para te afastar. Tenho “você” para dar intimidade. Tenho “vós” para vos dar majestade. Tenho voz para tudo falar. Tenho avós para me lembrar das palavras que não sei mais. Língua danada. Danada de bom. Danada de boa, me perdoa, nada como a concordância. Agrada meus ouvidos, me faz suspirar. Inspirar. Vocal. Vocábulo, vocabulário, vozerio, vociferar, afônico. Verbo. Vozes da América. Palavra, parábola, parar a bola, poesia parada, sem rima, sem cisma, sem verso, nem  reverso. Sozinho, soneto, sonolento, sem boca para falar. Ou reclamar. Palavra. Palavra escrita, palavra falada, palavra da vida, termo, tremo,trema, palavreado, palavrório. Palavra de homem, dar uma palavrinha. O poeta cisma, descansa na prosa, prosaicamente, rima à deriva, ruma incerto no oceano verbal, descomunal, sem acento. Polissílabos de uma sílaba só, proparoxítonas com acento na última, aversão ao verso versátil e ao verbo regular. Regras regulares de gramáticos incomuns acostumados às exceções, exceto secções da sessão sem síncope. Metáforas, anacronismos, hipérboles, pleonasmo. Plasma.Linfático, linfoma. Metástese. Saturação verbal. Excesso de vírgulas. Acentos sem sentido, sem nexo. Sem fonia, sinfonia, sintonia, sem sentido, semi, sema, semantema, fonema, presufixo, radical total, semântica, palavrão, cacófato inusitado, desusado, desiludido, desilusão do poeta que não sabe escrever em monossílabos, arcaico. Linguista, linguística, linguiça portuguesa, livro sem lista, índice sem livro, livro sem bliblioteca. Livraria grega, livro na internet, publicação anônima, presente de grego. Gênesis, o meio e o ômega. Ômicron, minúsculo, oi, origem do fim, fim do livro, capítulo final, conversa fiada, prosa vulgar, poeta sem sabor, sem rima, sem cisma, sem verso, sem reverso, no avesso, na contramão. Contra a mão que escreve a palavra correta na reta sem fim. Fim. Teu fim, poeta sem graça, que ri da poesia que fez e faz de conta que não sabe de nada. Nihil. Zero.Nihilismo.
Preciso de férias.
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 18/02/2013


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