Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

O DA14 e uma bala perdida

 
Ele era obcecado por catástofres: terremotos, tsunamis, furacões. Lia estatísticas, assistia a documentários, colecionava artigos. Assim era o Rubens. Ultimamente se ligara muito nas possíveis consequências da queda de um asteroide. Tinha lido sobre aquele grandão, que despencara sobre a península de Yucatán, no México, e que destruíra os coitados dos dinossauros. Que coisa horrível.  E aquele caso mais recente, 1908, na Sibéria, onde 80 milhões de árvores foram derrubadas. Isso é coisa séria, coisa para se preocupar. Por falar nisso, o motivo para a apreensão do Rubens tinha um nome: DA14. Segundo a sabidona da Nasa, ele estava para passar pertinho da Terra no dia 15. No entanto, já avisararm que não havia motivo para pânico. Sem chance de contato direto e imediato com a superfície.
Quem diz que o Rubens sossegava? Apesar de respeitar a Nasa, ele estava muito desconfiado. Ficava pensando no tal do DA14 o tempo todo. Estava até atrapalhando o seu trabalho.
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Naquela manhã, uns dias antes do ameaçador corpo celeste se aproximar da nossa querida, esplendorosa  Terra azul, ele estava mais preocupado do que o normal. Estava com péssimos pressentimentos. Pensava como poderia sobreviver, como faria depois da catástrofe, o que faria se a maligna rocha caísse perto dele, aqui, bem pertinho? Caminhava para o trabalho, absorto em seus pensamentos.  Decidiu que, ao chegar em casa, à noite, iria pesquisar sobre as chances estatísticas do DA14 chegar muito perto.
Pois bem, acho que esse foi o último pensamento do Rubens. Sentiu uma agulhada nas costas. Um fio de sangue escorreu pelo tecido bege de sua camisa e ele foi caindo, caindo na calçada. Não sei se ainda pensou mais uma vez no asteroide. Só sei que em alguns instantes o coração parou de bater. As pessoas começaram a se juntar em volta do corpo inerte. Alguém comentou e outro confirmou: uma bala perdida. Todos haviam ouvido os tiros.
Afinal de contas ele estava certo. Se um projétil, imensuravelmente menor e certamente menos veloz do que os 13 quilômetros por segundo  do DA14, era capaz de matá-lo, imagine o “dito cujo”. Que pena, o Rubens não estaria aqui para ver que nada de mal aconteceria.
Deus nos livre dos meteoros esporádicos e, principalmente, das balas perdidas de cada dia.

 

Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 08/02/2013


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