Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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A Reunião dos Super-heróis
 
Há muitos super-heróis mas poucos heróis. A diferença, você sabe, é que os “super” têm poderes sobrenaturais e os heróis comuns não. O trabalho desses últimos é muito maís difícil porque eles precisam fazer tudo com as simples e comuns habilidades humanas: eles não voam, não ficam invisíveis, não...você sabe! E o mais importante é que o super-herói pode ser inventado a qualquer hora. Os heróis da vida real, ah, esses são difíceis de se encontrar! Encontrar vários ao mesmo tempo, então, é quase impossível. No entanto, aconteceu! Ali, bem no centro de São Paulo, em 1972. Era o dia 24 de fevereiro, o dia em que o fogo varreu o edifício Andraus.  Antes de continuar, gostaria de explicar um pouco mais sobre heroísmo. Precisa também haver a ocasião. Precisa haver coragem e sacrifício. E principalmente, o herói precisa se preocupar mais com quem está salvando do que consigo mesmo. Mais uma última coisa: precisa arriscar, arriscar muito, sem medo! Por isso é difícil achar um. Todas essas coisas devem vir ao mesmo tempo. Por isso aquele dia foi especial. Foi uma coisa rara, uma coisa que pouquíssimas vezes aconteceu em São Paulo ou em qualquer outro lugar.
Logo depois das quatro da tarde o incêndio irrompeu a partir de um problema elétrico e rapidamente foi tomando conta de todo o prédio. Como o fogo começou dos andares de baixo, muitas pessoas ficaram presas numa espécie de armadilha. A situação tinha tudo para ser a pior tragédia nacional de todos os tempos.
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Talvez outros heróis estivessem lá e passaram despercebidos, afinal era o dia dos heróis paulistanos. Os que ficaram conhecidos eram de duas categorias: os bombeiros e os pilotos de helicóptero. Os primeiros, além de tirarem pessoas de dentro, tiveram a criatividade de improvisar uma ponte do prédio vizinho por onde saíram dezenas de pessoas. E aí uma cena de cinema: de repente, o cabo Geraldo Álvaro de Andrade saiu carregando uma criança que ele havia resgatado do interior do prédio. O sorriso que trazia no rosto  era largo e confiante e o fotógrafo do Jornal da Tarde captou o momento singular: uma das mais belas fotos do jornalismo brasileiro.
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No topo do edifício, o inferno estava começando a se estabelecer. As pessoas, desesperadas, subiram para lá, numa louca tentativa de se salvar. Era uma situação insustentável. A temperatura da laje era altíssima. O socorro através de helicópteros era altamente improvável. O heliporto estava interditado por causa das antenas. Era impossível pousar lá. Ainda assim começaram a aparecer aparelhos de todos os lados: do governo, de empresas, da iniciativa privada. As vítimas começaram a retirar, com muita dificuldade, as antenas. Finalmente conseguiram clarear um mínimo para a operação começar. Era uma missão impossível. Espaço mínimo, visibilidade quase zero, grau de calor muito além do tolerável. Pelo menos doze pilotos , um a um fazendo manobras perigosíssimas. Alguns retiraram mais de cem, outros algumas dezenas de pessoas. O calor era tanto que na hora de decolar não havia sustentação. Os pilotos tinham de jogar as suas “máquinas” em direção a Praça da República. Depois de cair um pouco, encontravam ar mais fresco e começavam a subir novamente. Todo e cada um dos voos  era praticamente um ato insano, coisa que ninguém faria em uma situação normal. Salvaram mais de 700 pessoas das cerca de 1200 que escaparam com vida.
Tinham todas as características necessárias para um herói que enumerei acima. Só não tinham os superpoderes dos “super”. Sabe aquelas coisas mágicas, sobrenaturais? Um momento, será?  “Jogar” o helicóptero para baixo até conseguir ar fresco para sustentação? Não sei, não... Acho que poderíamos  mudar a classificação: “os super-heróis do edifício Andraus”...
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 09/12/2012


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