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Brasileiro gosta de reclamar
Vamos ser sinceros, brasileiro gosta de reclamar. Reclama de tudo. Dos preços, do time, do trânsito, e principalmente do governo. Este último está sempre roubando, cobrando muito imposto, sendo ineficiente, enfim, sempre decepcionando. Diria até que, simplesmente, "está sendo governo". Não estou afirmando que o povo não tenha razão, muito pelo contrário. A única observação que posso fazer, e desculpe a rima indesejada, é que a ação é inversamente proporcional à reclamação. Quanto mais reclama, menos faz para eliminar o problema. Por outro lado, se serve de consolo, dê uma olhada no resto do mundo. Árabes se matando e matando os outros. Com exceções, é claro. Países pequenos na África e outros países do mundo elegendo e outras vezes “engolindo” ditadores que, além de roubar, ainda maltratam a população... E o que dizer de nações localizadas em partes do globo onde todas as possíveis tragédias naturais acontecem? Será que eles reclamam como nós? Tempestades, furacões, tsunamis, terremotos, avalanches, enchentes, etc...A favor dos reclamantes brasileiros devo dizer que há coisas que podem ser evitadas e outras não. Eu sei que há pessoas pensando nos países da Europa e nos EUA. Não há nada para reclamar? Posso garantir que, pelo menos por aqui, nos EUA, há coisas bem esquisitas, das quais poderia se fazer uma boa reclamação. Ultimamente, por exemplo, um dos partidos claramente tem apoiado a isenção de impostos para os mais ricos. Até aí, você pode pensar, afinal de contas, são eles que fornecem o dinheiro para que esses políticos sejam eleitos. Poderiam reclamar disso, mas faz sentido pelo menos.O problema é que uma grande parte da população, inclusive gente de renda bem baixa, eu diria metade, acha que é certo, é normal. Existem alguns argumentos, é claro. Se os ricos não pagam impostos, eles investem em negócios e criam mais empregos. O problema é que justamente nesse período em que tem havido essa redução de taxas é que aconteceu uma das maiores crises e a maior taxa de desemprego de toda a história americana. E que tal o fato de que instituições podem doar quantia ilimitada de dinheiro – ilimitada mesmo – para campanhas políticas sem precisar se identificar? Tudo dentro da lei, que aliás foi confirmada pela Suprema Corte? Eles têm ou não motivo para reclamar? E mais...Quanto aos políticos, existem umas “peças” raras. Devo confessar, não é a maioria, mas mais do que sufientes para formar um “zoológico”, sem querer ofender os pobres animaizinhos. Existe aquele deputado da Flórida que tem certeza de que os políticos do outro partido, o Democrata, são todos comunistas, de “carteirinha” e tudo. Alguém se esqueceu de avisar para ele que nem a Rússia é comunista mais hoje em dia. E o senador que disse que não deve ser autorizado aborto para mulheres que foram estupradas, pois o organismo delas por si mesmo têm a capacidade de “colocar tudo para fora”. E o outro então, que acha que nesse caso não deve ser autorizado aborto pois o “estupro foi vontade de Deus”... Eu poderia escrever um livro sobre as besteiras que se falam e fazem por aqui. Não sei não se o Stanislaw Ponte Preta não iria ficar com inveja. Quem sabe ele poderia por um adendo americano ao “Febeapá”.
Agora tenho de me render ao fato de que há alguns países onde quase tudo é perfeito. Não há pobreza, a corrupção é praticamente inexistente, poucas pessoas falam besteiras ( essa parte é difícil de se alcançar com eficiência em qualquer lugar). Mas não sei por quê, talvez seja pura coincidência, faz um frio desgraçado por lá: Suécia, Dinamarca, etc. E tem mais, não sei se é verdade, as pessoas ficam tão entendiadas – tudo tão perfeito - que ficam bêbadas o tempo todo. Paciência, deve ser a balança cósmica. Além disso, em nosso caso, reclamar é bom, faz bem para a alma. Dá aquela sensação gostosa de que estamos fazendo algo bom para a sociedade. Mais ainda, podemos continuar a beber cerveja, fazer churrasco quando quisermos, ter feriados prolongadíssimos e outras coisas mais. Se você não gostar de nada disso, você ainda tem a religião para se consolar. Sem bebida, mas você pode escolher a crença que quiser. Compare com países onde você escolhe a crença “errada” e vai para o “céu” na manhã seguinte ou até no mesmo dia. Claro que existem pessoas em nosso país numa situação tão difícil, que nada disso funciona. Acho que é por elas que deveríamos reclamar.
Estão vendo quantas possibilidades? Sem contar que o time da gente ainda pode ganhar o campeonato. O meu, por exemplo, está sempre ganhando. É verdade que isso não é para todos, mas sempre existe a hipótese de você mudar de time. Nesse caso, você teria de mudar de cidade. Claro que fica chato virar bandeira, ali na “cara dura” e permanecer no mesmo local...
Existe ainda uma última alternativa. Se você não gosta de feriado normal, feriado prolongado, praia, churrasco, futebol, cerveja, caipirinha, o direito de reclamar o tempo todo e ainda escolher a religião que quiser, você pode tentar conseguir um visto para um desses países quase perfeitos. Não vai reclamar por que não há nada para contestar. São pouquíssimos e o visto é muito difícil. Não custa tentar. Boa sorte! Só um pequeno detalhe: tome cuidado para não morrer congelado ou ficar bêbado, jogado na calçada! Uma última coisa da qual estava me esquecendo: eles não têm carnaval...
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 06/12/2012
Alterado em 07/12/2012
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