O Palhaço Esquecido
O Palhaço Esquecido Um foco de luz está sobre um palhaço que está deitado no banco da praça. O palhaço tem as iniciais P.P. em sua camisa e um machucado vermelho bem grande na testa. Ao fundo ouve-se a voz de uma mulher que recita uma poesia de Cecília Meireles. “Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para cá e para lá.” Regina, a professora, entra no palco, também sob um foco de luz, com um livro aberto na mão esquerda e o deixa cair quando vê o palhaço dormindo no banco. Leva um susto e dá um grito acordando o palhaço que também grita assustado. Os dois focos de luz são substituídos pela claridade normal do ambiente. Regina: (após se recuperar do susto) Palhaço, palhacinho, de onde você apareceu? Palhaço: Palhaço? Por que você está me xingando de palhaço? Eu fiz alguma coisa para você? Regina: Eu não estou xingando. Estou chamando você pelo nome. Você está vestido de palhaço, tem cara de palhaço, nariz de palhaço, tudo de palhaço, portanto você é um palhaço. Palhaço: Para dizer a verdade, não sei quem eu sou. Não me lembro de nada. Mas isso não é motivo para você me chamar de palhaço. Regina: Como eu disse, você inteiro parece um palhaço. Além disso, não sei por que você está ofendido. Ser palhaço é uma profissão muito importante, principalmente para as crianças. Você deveria ter orgulho de ser um palhaço. Palhaço: Ah, é? Então se você quiser, pode me chamar de palhaço. Mas não sei não… Regina: O quê? O que você não sabe? Palhaço: Se eu sou um palhaço, como é que não me lembro de nenhuma palhaçada? Estou sem graça e sem nada na cabeça. Aliás, só sei que tenho cabeça, porque estou com uma dor danada na dita cuja. Regina: Estou mesmo vendo um machucado enorme na sua testa. Você caiu? Palhaço: Não sei, não me lembro de nada. Regina: Pensando bem, você tem razão, um palhaço sem graça, não é um bom palhaço. Palhaço: Não precisa exagerar. Eu posso tentar fazer graça. (Faz umas caretas, tenta dar uma pirueta) Palhaço: Criançada, o que vocês acham? Não tenho graça? Regina: Você tem razão, você não tem graça. Palhaço sem graça é como professor que não sabe ensinar, que não sabe ler, que não sabe escrever… Palhaço: É como médico que não sabe curar, como pássaro que não sabe voar, como policial que não sabe policiar, pintor que não sabe pintar, engenheiro que… (Regina, interrompendo…) Regina: Chega, chega, todo mundo já entendeu. O problema não é que você não tem graça, o problema é que você se esqueceu de como fazer graça. Tenho certeza de que antes você era engraçado. Você até tem uma cara gozada… Palhaço: Acho que agora você está gozando de minha cara. Regina: Não estou não. Eu acho que sei onde está o problema. Palhaço: Onde, onde? Regina: Na sua cabeça. Palhaço: Grande coisa, isso eu também sei. Claro que está na minha cabeça. Regina: Não, você não entendeu. Na sua cabeça, quero dizer, na sua testa. O problema é esse seu machucado. Palhaço: Você acha que as crianças não acham graça no meu machucado? Regina: Não, palhaço, não. Espera um pouco, preciso pensar. Acho que você levou uma pancada na cabeça e por isso está se esquecendo de tudo. É isso mesmo. Palhaço: Não sei não…Perder a graça por causa de um machucado? Não sei não…Não acho graça nisso. Regina: Ninguém acha graça num machucado, “seu” Palhaço. Precisamos investigar. Palhaço; Que bom, que bom! Você sabe investigar? Pensei que você fosse uma professora e não uma investigadora. O Palhaço vê o livro que havia caído, apanha-o, lê o nome da autora Cecília Meireles com certa dificuldade e o devolve para a professora. Palhaço: Ce-cí-lia Mei-re-les? É sua amiga? Regina: Obrigado.De certa forma sim. Ela escreveu poesias para as crianças e como eu ensino crianças também, de certa forma somos amigas. Mas voltando ao assunto, eu sou professora e posso investigar um pouco, mas seu caso é meio complicado. Regina e o Palhaço cantam a canção do Palhaço: Quem será, quem será O palhaço da praça? Malandro ele será? Um palhaço sem graça? Talvez ele será. Será que é bonachão? Como é que se chama? Será que é João? É Palhaço Banana? Sera que é um ladrão? Será que é Pepeu? Será que é Zezé? Ninguém sabe, nem eu. Zé acho que não é. É um palhaço triste Que está esquecido Pássaro sem alpiste Músico sem ouvido Vai ele se lembrar Das graças que fazia? Parece ironia Ele se recordar De piada nenhuma Nem do circo ou casa Nem de coisa alguma Ou de onde morava Coitado do palhaço Qual será seu destino? Perdido no espaço Está sem muito tino Palhaço, não sei não No que é que vai dar Toda essa confusão Melhor será lembrar Como era então Lembra, lembra, palhaço Como era então Regina então fala com a criançada: Regina: Criançada, você acham o caso do Palhaço complicado? Vocês me ajudam resolver? Levante a mão quem quer ser investigador comigo! Vocês acham que o caso dele é complicado? É grave? O palhaço espera a reação da criançada e depois começa: Palhaço: Meus Deus, meu Deus! É grave, é grave? Vou morrer? Vou morrer sem graça? Não acho graça nenhuma no que você está falando. Regina: Calma, calma, me deixa pensar… Palhaço (murmurando): Não tem graça, não tem graça…Quem sou seu? Por que não tenho graça? Regina: Você devia viver num circo, palhaço que era. Você tinha algum inimigo no circo? Palhaço: Você se esqueceu de que eu me esqueci de tudo? Acho que você não sabe investigar… Regina: Pensando bem, você tem razão. Temos de chamar um profissional. Palhaço: Isso mesmo, precisamos, quero minha graça de volta, pois não tem graça nenhuma ficar sem graça. Regina: Eu sei quem pode nos ajudar. É o policial da cidade, o nosso amigo Romeu. O palhaço e a Regina cantam juntos e de mão dadas a canção do policial: “O professor ensina O palhaço faz graça O poeta fascina O padeiro faz massa Mas para sabermos Donde vem o palhaço É bom nós escolhermos Alguém com nervos de aço. Um grande amigo meu O policial é o Romeu Assim que a música para, o palhaço vai para o banco preocupado e senta-se. Regina: Romeu, Romeu! Precisamos de ajuda! Silêncio, ninguém responde. Regina: Romeu, Romeu, onde você está? Silêncio, de novo. Palhaço: Ninguém sabe onde está o Romeu, muito menos eu. Regina: Não tem graça, “seu” Palhaço. Se o Romeu não respondeu é porque está muito ocupado. Não é como algumas pessoas que eu conheço. Palhaço: Desculpe, só estava tentando fazer graça. Regina: Pois bem, isso não tem graça nenhuma. Se estou chamando o Romeu, é para ajudar você. Palhaço: Está bem, está bem, desculpe, desculpe. (O Palhaço faz concha coma mão atrás da orelha) Palhaço: Você está ouvindo? Uma sirene está tocando. Alguém está chegando. (Uma sirene soa ao fundo) Regina: É verdade, agora estou ouvindo também. Com o Romeu, folga é que não tem. (A sirene fica mais forte e depois para. Uma voz grita lá de fora) Romeu: Chegou a lei, a lei chegou. Se alguém a lei desrespeitou, vai ter de pagar, nem que tenha de penar. Se alguém se machucou, a lei chegou para ajudar. Aqui é o sargento Romeu pronto para começar. Finalmente Romeu aparece, vestido de polícia. Romeu: Onde estão os suspeitos? O que aconteceu? Regina: Calma, Romeu. O que aconteceu é que o nosso Palhaço aqui não sabe o que aconteceu pois sua graça desapareceu. Romeu: Como assim? Regina: Esqueceu tudo, não sabe quem é, não sabe de onde veio e, além de tudo, não sabe mais fazer palhaçada, mesmo sendo um palhaço. Romeu: É mesmo esquisito, mas para tudo há um jeito. Não há nada que a polícia não resolva. Palhaço: Não sei não… Romeu: O que você não sabe? Está duvidando da capacidade de nossa polícia? Palhaço: Não, não é isso. Você nem tem uma arma…Como vai resolver um crime? Como vai prender um criminoso? Romeu: (apontando o dedo para a cabeça) Resolvo os problemas com isso aqui, não preciso de arma. Armas são perigosas e pode acontecer um acidente. Além disso você sabe como é o nome desta cidade? Palhaço: Não sei nem quem eu sou…quanto mais qual é o nome da cidade. Regina: A culpa é minha, esqueci de contar este detalhe para o palhaço. O nome da cidade é Harmonia. Palhaço, você sabe o que significa Harmonia? Palhaço: Claro, eu sou esquecido, não sou burro nem ignorante. Regina (rindo): E se você esqueceu que é ignorante? Palhaço: Ninguém esquece que é ignorante. Harmonia significa paz e amizade entre as pessoas. Romeu: Isso mesmo. Por isso que não uso armas por aqui. As pessoas vivem em paz. Só existem uns casinhos de brigas e desentendimentos. Você é o primeiro caso real de polícia que aparece por aqui. Mas nós vamos resolver. Palhaço: Não sei se isto é um elogio ou…Não me lembro de ter sido um caso de polícia antes. Romeu: Não importa, vamos começar com este machucado em sua testa. Você andou bebendo em uma festa? Você sabe como ele apareceu? Como foi que este galo cresceu? Palhaço: De novo? Já não falei que não me lembro de nada além de ter me esquecido de tudo? Romeu: Está bem, está bem. Mas uma coisa eu digo. Isto só pode ser duas coisas: ou foi uma briga ou foi um acidente. Palhaço: Como eu disse antes, eu não me lembro. Espera aí, estou me lembrando de uma coisa… Regina e Romeu (em conjunto): O que é, o que é? Do que é que você está se lembrando? Palhaço: Estou me lembrando de que me esqueci de tudo. Regina: Não tem graça, palhaço. Criançada, vocês acham que este palhaço tem graça? Espera a reação da criançada. Romeu: Eu tenho quase certeza de que foi um acidente. Mas daí vem uma segunda pergunta. Como este palhaço veio parar aqui em Harmonia? O vento não foi porque ele é meio gordinho… Palhaço: Não precisa ofender! Romeu: Não é ofensa, mas é bom para sua saúde se você emagrecer um pouco. Regina: Isso mesmo, seu palhaço. Romeu: A outra questão é: O que quer dizer este P.P. bordado em sua camisa de palhaço? Quer dizer que você é palhaço duas vezes? Palhaço: Não sei, não sei, eu me esqueci. Já se esqueceu que eu me esqueci de tudo? Romeu: É que acho esquisito alguém esquecer do próprio nome… Regina: É mesmo, estou achando tudo muito esquisito. Palhaço: Eu também. Romeu: Para mim, que sou a lei, não há mistério que não tenha solução, é tudo uma questão de investigação! Puxa, Regina, acho que acabei de fazer um “slogan”. O que você acha? Regina: Achei legal: “Não há mistério que não tenha solução, é tudo uma questão de investigação! Acho que o prefeito da cidade vai gostar! Palhaço: Vocês se esqueceram de mim? Que tal um slogan para mim: Não se esqueçam do palhaço, que também está no mesmo espaço? Regina e Romeu riem Regina: Até que você é bom de slogan! Romeu: Vai ver que você era um palhaço que fazia slogans! Bom, mas vamos voltar ao assunto. A primeira coisa que vamos fazer é cuidar deste ferimento, pois a polícia de Harmonia não deixa ninguém na agonia! Regina: Você gosta mesmo de rimar, hein, Romeu!!! Romeu: De vez em quando sai uma, nem sei como! Regina; Então também vou fazer uma rima: Em Harmonia nós temos um policial poeta e um palhaço pateta! Palhaço: Não sei se gostei desta última não… Romeu: Como eu estava dizendo antes de toda essa poesia, precisamos cuidar do ferimento do Pepê. Palhaço: Meu nome não é Pepê! Romeu: Como você sabe que não é? Você se esqueceu de que você não se lembra de nada? Além disso na sua roupa há dois “p”s, portanto você pode ser Pepeu, do mesmo jeito que eu sou Romeu. Se você não se lembra, nem eu! Regina: Nossa, este policial é mesmo um escritor, além de ser um bom investigador! Palhaço; Vocês dois aí, não sei não, todos cheios de elogios um pelo outro. Não sei não. (Regina e Romeu ficam sem graça, envergonhados…) Romeu (disfarçando): Neusa, Neusa, venha para cá! Temos uma emergência! Palhaço: Quem é essa Neusa? Regina: É a enfermeira da cidade. Ela é tão boa que parece uma médica! Os três cantam de mãos dadas a “Canção da Enfermeira” “Neusa é uma enfermeira Não uma enfermeira qualquer Ela cura uma frieira Cura a doença que quer Gosta de todos os pacientes Como se eles fossem parentes Nunca deixa alguém na mão Nos trata com educação Conhece todas doenças Saramos com sua presença” Romeu: Neusa, Neusa! Vem para cá que temos um palhaço que não tem rumo nem prumo e está perdido no mundo, quero dizer, em Harmonia! Palhaço: Também não precisa fazer rima o tempo todo. Já perdeu a graça! Regina: Não acho, não. Falar bonito é sempre muito bom, melhor do que falar palavrão! (Ouve-se uma voz de mulher cantando. O canto aumenta e de repente surge uma moça vestida de enfermeira. Ela leva um susto e grita:) Neusa: Nossa, quem é esse palhaço? Palhaço: Por que esse susto? Nunca viu um palhaço? Neusa: Desculpe, desculpe. Faz tempo que não vejo um! Estou vendo que você não é um palhaço comum. Tem na testa um machucado e parece bem assustado. Outra coisa posso garantir: este ferimento não é nem agressão nem colisão, é consequência de uma queda no chão! Palhaço: Será que ninguém aqui sabe falar normal? Só sabem falar rimando? Regina: Eu acho bonito. Quanto mais poesia, melhor! Mas, Neusa, porque você acha que foi uma queda no chão e não um bofetão? Romeu: Isso mesmo, por quê? Eu pensei que eu fosse o investigador. Neusa: Calma, calma. É uma questão de experiência. Em Harmonia não há violência. Estou acostumada com marcas de acidente todo o tempo no hospital. Agora, com licença, preciso comer minha paçoca, pois não tive intervalo no meu trabalho. Alguém mais quer paçoca? Bem que tomaria também uma coca! Palhaço: Lembrei, lembrei, lembrei! Romeu: Nossa, do que é que você se lembrou? Palhaço: Paçoca, Paçoca! Este é meu nome, Palhaço Paçoca! Regina: Essa enfermeira Neusa é boa mesmo! Já está curando o palhaço só de falar com ele. Palhaço: Este é meu nome, Paçoca, Palhaço Paçoca! Romeu: Faz sentido. P.P: Palhaço Paçoca! Uma parte está resolvida, já sabemos o nome do Palhaço. Agora só temos mais uma charada: como é que ele apareceu do nada! Regina: Vocês estão vendo como juntos podemos resolver o problema: Harmonia é nosso lema! Romeu: Agora sim, temos rima: está tudo em cima! Regina: Se juntos já conseguimos tudo isso, juntos vamos conseguir resolver o resto do mistério. Vamos saber por que o palhaço está aqui e não no cemitério! Palhaço: Não precisa falar do cemitério só pra fazer rima! Não gosto de cemitérios. Regina: Está bem, está bem. Eu me empolguei…e mais uma vez rimei! Palhaço: Chega, chega, por favor! Romeu: Está bem. Vamos nos organizar. O palhaço fica aqui e vai tentar se lembrar. A Regina vai também ficar aqui e tudo coordenar. A Neusa vai de volta para o hospital investigar. Eu eu vou sair por aí e uma resposta tentar encontrar. Todo mundo está com o celular? Palhaço: ( balançando a cabeça): Parece que todo mundo quer mesmo é rimar, já começo a desanimar. Êpa! Até eu comecei a rimar! Não sei onde isto vai parar! Todos dão as mãos e cantam juntos a “Canção da Colaboração” Precisamos de todos juntos Pois trabalhamos em conjunto Quando todos nós assim estamos Com certeza todos ganhamos Nós não temos nenhum problema Quando seguimos nosso lema Um por todos, todos por um Nós juntos, problema nenhum Neusa, Paçoca mais Romeu Nós todos juntos mais eu (Regina aponta para si mesma) Não existe nenhum inimigo Que ataque nossos amigos Juntos somos fortes, valentes Assim marchamos para fente Só a Regina: Neusa, Paçoca mais Romeu Nós todos juntos mais eu (Regina aponta para si mesma) Agora o Paçoca tem graça Acabou toda a desgraça Fortes somos, juntos estamos Quando chega a hora, lutamos Romeu, Neusa mais o Paçoca Que é palhaço mas não boboca Neusa, Paçoca mais Romeu Nós todos juntos mais eu (Regina aponta para si mesma) Agora o Paçoca tem graça Acabou toda a desgraça Romeu e Neusa saem para fazer suas tarefas. O Palhaço Paçoca e a Prefessora Regina ficam. A cena começa com o Palhaço Paçoca e a professora Regina andando de um lado para outro, preocupados Regina: Por que você tem o nome de Paçoca? Você comia muita paçoca? Palhaço: Não sei quantas vezes vou ter de falar a mesma coisa. Eu me esqueci de tudo. Não me lembro. E também me esqueci do motivo pelo qual eu não me lembro. E olhando para a criançada: Palhaço: Criançada, criançada, vocês sabem por que eu não me lembro de nada? Regina: Você se lembrou de seu nome. Quem sabe não se lembra de outras coisas? Palhaço: Às vezes fico pensando se é bom lembrar. Pode ser que seja melhor esquecer. Regina: Eu também estou preocupada com isso. Palhaço: Preocupada com o quê? Regina: Você parece ser um palhaço legal e estamos começando a gostar de você. Palhaço: É mesmo? Pensei que vocês não gostassem de mim, pois me chamam de palhaço toda hora. Regina: Isto porque você é um palhaço, já se esqueceu? Palhaço Paçoca. Palhaço; É verdade… Regina: Como eu estava dizendo antes, já pensou se o policial Romeu descobre que você é um bandido ou um ladrão? Como vamos fazer para “desgotar” de você? É complicado. Eu nunca “desgostei” antes. Deve ser difícil! Palhaço: É verdade, viver é complicado. Regina: Agora você também vai começar. Está falando igual a um poeta. Toca o telefone bem alto. Os dois dão um pulo. Regina pega o celular. Regina: Alô, quem é? Oi, Romeu, descobriu alguma coisa? Passam uns segundos. Regina: É mesmo? Palhaço: Que foi, que foi? Regina: Fica quieto senão não posso ouvir o Romeu. Regina: Três circos, todos longe daqui? Você vai falar com todos eles? Ótimo! Palhaço: Achou o meu circo, achou? Regina: Você quer ficar quieto? Não consigo ouvir o Romeu. Volta a atender o telefone: Regina: Está bem. Avise quando souber mais. Regina desliga o telefone. Palhaço: O que é? O que é? Regina: Calma, calma! Há três circos, todos eles em cidades longe daqui. O Romeu e a Neusa vão ligar para eles e descobrir se eles sabem de alguma coisa. Toca o telefone. Os dois novamente dão um pulo. Regina atende: Regina: Neusa, o que foi? Descobriu alguma coisa? Palhaço: O que é, o que é? Regina: Fica quieto, Paçoca! Preciso ouvir a Neusa! Regina fica algum tempo ouvindo a Neusa, depois desliga o telefone e explica para o Paçoca: Regina: Descobrimos bastante coisa. O primeiro circo, de uma cidade chamada Alvorada, nunca ouviu falar de palhaço Paçoca, nem de palhaço Amendoim, nem de qualquer coisa assim. O segundo circo, da cidade de Pousada da Tristeza, foi fechado e o dono mandou todos os empregados embora, que tristeza. O palhaço desse circo foi transferido para o circo da Cidade da Esperança. Daí então Romeu investigou esse terceiro circo e eles falaram que o palhaço nunca lá chegou e eles até contrataram outro. Toca o telefone de novo. Regina: Olá Neusa, pode falar. Mais alguma novidade? Regina escuta por uns momentos em silêncio e depois se despede: Regina: Está bem, Neusa, vem para a praça que o Romeu também está vindo e nós vamos discutir o assunto. Palhaço: Conta, conta. Regina: Parece que está tudo esclarecido. O palhaço que estava indo, transferido, da cidade de Pousada da Tristeza para a Cidade da Esperança, caiu do caminhão, bateu a testa no chão e desmaiou na estrada. Um outro carro vinha vindo, socorreu o palhaço, mas como estava com pressa e não sabia onde era o hospital, deixou o palhaço na praça. Eu acho que este motorista não tem graça. Palhaço: Coitado deste palhaço. Ainda bem que não foi comigo. Regina: Não acredito que você ainda não entendeu, Paçoca. Você não consegue ver que este palhaço é você? Um machucado na testa, você largado aqui na praça hoje de manhã. A Neusa tinha razão, você bateu a cabeça no chão e esqueceu tudo. Palhaço: Nossa, é verdade, coitado de mim. Acho que vou chorar. Regina: Palhaço não chora, além disso você está a salvo agora, aqui conosco, na cidade de Harmonia. Palhaço: É verdade, mas não sei não. Acho que vou chorar assim mesmo. Regina ( para a criançada): Criançada, criançada! Palhaço chora? Vocês já viram um palhaço chorar? (Paçoca começa a fazer cara de choro, quando Neusa e Romeu entram correndo na praça) Romeu: Tudo resolvido, tudo esclarecido. Na cidade de Harmonia tudo é alegria, as coisas ficam claras como a luz do dia. A parte triste da história é que o Paçoca se machucou e perdeu o emprego. Palhaço: Como perdi o emprego? Justo agora que estava começando a me lembrar das palhaçadas? Romeu: Já expliquei: o circo da cidade de Esperança perdeu a esperança de você aparecer e contratou um outro palhaço chamado Mandioquinha que também sabe fazer gracinhas. Palhaço: Meu Deus, meu Deus. O primeiro circo fechou e o segundo me eliminou. Sou um palhaço sem circo, sem graça, sem emprego, sem… Regina: Sem o quê? Sem amigos? Aqui você tem vários amigos e já provamos isto para você. Neusa: É verdade, somos amigos, não ajudamos você? Romeu: É isso mesmo, todos nós fomos amigos e lhe demos a mão. Palhaço (comovido): Vocês são mesmo meus amigos? Amigos de verdade? Vocês nem me conhecem direito… Regina: O que já sabemos é mais do que suficiente. Neusa: É verdade. Romeu: Também concordo. Palhaço: Mas como vou viver? Em Harmonia não há circo, vou ter de correr o mundo inteiro procurando um novo circo para trabalhar. Afinal de contas, o Mandioquinha já pegou meu emprego. Romeu: O Mandioquinha pegou seu emprego mas não pegou sua graça. Já pensamos em tudo. Palhaço que é palhaço de verdade não precisa de um circo, faz graça em qualquer lugar. Na rua, na praça, na calçada. Até no ar. Regina: Mas no seu caso, nós temos um lugar. Você pode fazer as palhaçadas no nosso salão de teatro, lá na Prefeitura. Além disso, você pode dar umas aulas de palhaçadas para meus alunos lá na escola. Neusa: Você pode também ir até nosso hospital e alegrar as crianças que estão doentes. Palhaço: Puxa, nunca pensei nisso. Você acha que é importante alegrar as crianças doentes? Neusa: Claro, às vezes é mais importante do que tomar remédio. Romeu: Além disso, meu chefe, o delegado, até pode dar uma autorização para você fazer graça aqui mesmo na praça. Podemos chamar de “O Circo sem Lona do Palhaço Paçoca”. Uma lona não faz circo, mas o “seu” Paçoca faz. Palhaço: Gostei do nome. Mas vocês arrumaram tanto serviço que estou ficando cansado só de ouvir. (Dá uma parada, um grande sorriso e fala:) Palhaço: Estou brincando…Não vejo a hora de começar. Todos dão as mãos e cantam juntos a Música final: Paçoca, Paçoca Faz graça, faz graça Palhaço, palhaço Pipoca, pipoca Paçoca, Paçoca Tem peito de aço Regina e Romeu Romeu e Regina Que aconteceu? É amor, é amor A Neusa, a Neusa Bela enfermeira, Ninguém encontrou Paçoca, Paçoca Vê se sai da toca Neusa, Paçoca mais Romeu Nós todos juntos mais eu (Regina aponta para si mesma) Agora o Paçoca tem graça Acabou toda a desgraça Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 11/10/2012
Alterado em 17/10/2012 |