Rosalyn vai às compras
Rosalyn tentou salvar o casamento mas não deu. Graças a Deus os dois eram bastante razoáveis, continuaram amigos e não houve outros problemas. Filhos não tinham, por isso era só tocar para frente. Falar é fácil, fazer é que são elas. Uma depressão profunda tomou conta da pobrezinha da Rosalyn. Bem, talvez “pobrezinha” não seja a palavra adequada por dois motivos. Primeiro porque ela ganhava bem e ainda por cima ficou com uma boa grana do casamento desfeito. Segundo, porque do jeito que ela estava engordando – por causa da depressão – não sei se o diminutivo pode ser aplicado com precisão. Ainda bem que ela tinha recursos para pagar um bom psicólogo. Que tristeza, sem o maridão. Ao contrário do que acontece em muitos casos, agora é que ela percebia quanta coisa boa ele tinha. Mas o negócio era tocar para a frente. Estava me esquecendo, além dos doces que engolia sem clemência – pelo menos eles adoçavam o espírito – ela entrou num vendaval doido de compras. A gordura ela controlava: engordava, fazia regime, emagrecia, engordava de novo, e assim por diante. O problema era aquele consumo desvairado. Não perdoava nada: sapatos, vestidos, blusas, lingerie. Tudo desde que fosse caro e de qualidade. Deixava a besta à solta no final de semana e depois colocava tudo no closet. Durante a semana experimentava os vestidos, colocava os sapatos, desfilava para si mesma com as bolsas diante do espelho. Imaginava um grupo de homens admirando e outro de mulheres invejando...Quanta classe, que beleza, como cai bem aquele vestido...mesmo que não caísse. O problema foi aumentando. Os armários não eram mais suficientes. As compras espalhavam-se pela casa toda. Numa dessas tardes de primavera Rosalyn foi almoçar com sua amiga brasileira, Rosemeire. Gostava dela, confiava nela, era uma grande companheira. Confessou suas fraquezas, disse que não tinha mais coragem de falar com o psicólogo. Além disso, o Dr. Eckardt aparentemente não estava muito preocupado com a situação da Rosalyn. O que ele queria mesmo era estender aquelas consultas para sempre. Rosemeire ouviu com atenção a amiga, não se surpreendeu, achou tudo muito normal. Advertiu-a porém, que do jeito que ela estava fazendo, iria ter de pedir falência logo, logo. -Acredite em mim, também tenho fases assim. Mas, minha amiga, você vive num país abençoado e por isso seu problema já está resolvido. Rosalyn, ainda sem entender, continuou ouvindo. -Querida, isso não é nada. Já passei por isso. É só devolver...Você sabe melhor do que eu, que ninguém pergunta nada. É só guardar o recibo e não tirar a etiqueta. -Mas... -Não tem mas. Faça como eu digo. Para comemorar, vamos fazer compras. Rosemeire deu uma gargalhada, puxou a Rosalyn pela mão e foram ao shopping. Vestidos de todas as cores e modelos, bolsas de couro legítimo, sapatos finíssimos, relógios... Despediram-se no final do dia e Rosemeire alertou: -Não tire as etiquetas! E assim fez Rosalyn. Todas as noites, depois do trabalho, vestia vestidos novos – escondia a etiqueta por dentro – desfilava com os sapatos e, acreditem, acariciava o rosto com os tecidos finos de seu imenso guarda-roupa. Depois dormia feliz, feliz... Sábado de manhã, recolhia tudo nas mesmas sacolas, voltava para as lojas e ia pedindo reembolso de tudo. Ninguém sequer fazia uma simples pergunta. Aí então começava tudo de novo. Novas lojas, novas roupas, novo tudo, nova Rosalyn... E a operação se repetia toda semana. Viva o capitalismo americano, viva a criatividade brasileira, que felicidade... Além do mais, estava economizando o dinheiro do psicólogo. Quem precisava de um? Não a Rosalyn, que, afinal de contas, tinha uma amiga chamada Rosemeire... Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 01/08/2012
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