Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Este é um país livre… Assim pensava Mike. Liberdade é a coisa mais importante na vida de uma pessoa. Por isso achava estar no país certo. Precisava também livrar-se de tudo que significasse restrição, apego, etc...Assim é que não tinha família, nem casa, nada que pudesse restringir seus atos, seus movimentos. Já pensou o quanto uma esposa e filhos tiram de sua liberdade? Quanta coisa você deixa de fazer? Entretanto, precisava morar em algum lugar: o carro era sua casa. Um velho carro que não custara quase nada. Além disso, não percorria grandes distâncias. Ficava por ali...De manhã, acordava, procurava o 7 Eleven mais próximo, ia té o banheiro e fazia sua higiene pessoal na torneira. Ao contrário do que se possa pensar, era asseado e cuidadoso com suas roupas. Usava aquelas máquinas de lavar roupa e secadoras de moedas e mantinha toda sua vestimenta – claro, não era muita – impecável, dobrada e limpa. A sua refeição mais comum eram aqueles hambúrgueres de 99 centavos. O refrigerante ele não pagava. Era só pegar um copo do lixo – não era sujo como você pode estar pensando... - ir até a máquina e pegar um “refil”.
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Gasolina? Fácil. Encostava o carro na bomba, “tentava” passar um velho cartão de crédito, que, claro, não funcionava mais, e fazer uma cara de contrariedade. Isso, sempre perto de uma senhora ou senhor daqueles que se “comovem” facilmente com o problema do próximo. Daí, explicava, que não entendia porque o cartão não estava funcionando. Ele precisava só de um galão de gasolina, ir até em casa pegar o talão de cheques e...O bom samaritano, sempre falava que não era necessário, que não se preocupasse, isso acontecia com todo mundo, etc..Geralmente colocavam mais de um galão e Mike andava mais um ou dois dias. Havia solução para tudo e, além disso, não teria de abdicar de sua liberdade trabalhando para um desses patrões exploradores. Acontece que, como todos nós mortais sabemos, um dia a coisa aperta. E com Mike acontecia o mesmo. Principalmente porque ele, além de ter o hábito de fumar cigarros tradicionais, gostava de outros especiais. E isso custava dinheiro mesmo para homens livres como ele. Havia também sempre a possibilidade de o carro quebrar. Em situações como essas, ele fazia o sacrifício máximo de arrumar um emprego. Escolhia bem, não servia qualquer coisa. Trabalhava então umas longas três ou quatro semanas e pronto: tinha munição para mais dois ou três meses de “liberdade”. Volta e meia algum policial – esses, definitivamente não têm a menor ideia do que seja a verdadeira liberdade – interpelava-o, queria saber o que estava fazendo ali, etc., etc....Mas era só isso. Nada mais interferia em sua vida. Afinal de contas, ele morava num país livre...e liberdade, como todos sabemos, é um conceito relativo.

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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 11/07/2012
Alterado em 12/07/2012


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