Rosewood e o Conceito de Verossimilhança
Nos anos 60 aprendi, em minhas aulas de literatura, o conceito de 'verossimilhança' em uma obra literária ou no cinema. A ideia é que uma história que se conta precisa ter essa característica de ser real, mesmo que seja absurda, ou seja, deve haver uma lógica interna que crie a sensação de ‘verdadeiro’, de ‘possível’. Pois bem, quando você assiste ao filme “Rosewood”, por um certo momento você poderá achar que falta ‘verossimilhança’ à história, tal a indignação que ela provoca. Acontece que a narrativa é baseada em fatos reais que aconteceram em 1923 nesta pequena comunidade da Flórida. A maioria da população era negra, lutando para prosperar diante das inúmeras restrições racistas que ainda eram muito fortes nessa época, principalmente nesta parte do país. A versão que temos dos fatos é que se espalhou um boato, mais tarde confirmado como sem fundamento, de que um homem negro havia violentado física e sexualmente uma mulher branca. Imediatamente formaram-se grupos que começaram a perseguir e atacar pessoas da raça negra em Rosewood. Várias pessoas negras foram assassinadas. Por dias todo habitante de Rosewood precisou se esconder nos pântanos ou no mato. Com a ajuda de algumas pessoas de bom senso foi organizada uma retirada principalmente através da estrada de ferro (Seaboard Air Line Railway).
Praticamente todas as propriedades pertencentes à comunidade local foram derrubadas ou incendiadas. Mais tarde apurou-se que Frances "Fannie" Taylor, a mulher que se queixou da violência sexual, na verdade foi vítima de seu próprio amante, um homem branco. Inventou a história para esconder do marido sua traíção A cidade de Rosewood desapareceu, nenhum habitante jamais voltou para a mesma. Virou uma cidade fantasma.
Don Cheadle, Ving Rhames, Jon Voight, Loren Dean, Michael Rooker atuam neste filme que recria com fidelidade essa triste história da Flórida. Como eu disse, se não fossem fatos reais, eu iria duvidar da “verossimilhança” da narrativa. Como uma espécie de vingança cármica, o local nunca mais se desenvolveu. Claro, o Pato Donald e o Mickey Mouse não sabiam desses horrores e acabaram vindo para perto anos mais tarde. Talvez a presença deles ajude as pessoas se esquecerem da vergonha do ocorrido, porque, afinal de contas, a mágica precisa continuar...
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 19/06/2012
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