Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Rambo do Norte, Rambo do Sul
 
Dekraai é  apenas mais um doido varrido que entra para a história dos assassinos coletivos em nossa sociedade. Mesma história de sempre, entretanto personagens, local e horário atualizados ... Entra num salão de cabeleireiro, armado, e mata oito pessoas. Motivo: vingança contra a ex-exposa pois brigava com ela na justiça por mais tempo com o filho. Uma dessas grandes incoerências do mundo moderno. Por que será que ele queria mais tempo com o filho? Para ensiná-lo a ser “Rambo”? Para ensiná-lo a ser “destemido” e conseguir tudo à força, na base da violência? Nem adianta tentar entender pois não há o que entender. Talvez o ”Cujo”, ou o “Capeta”, ou “Lúcifer”, apenas para usar alguns dos nomes que Guimarães Rosa dá para o diabo, seja a explicação.
Pois bem, falei acima do Rambo do Norte. Agora vamos viajar para o Sul para escrever sobre o outro Rambo. Há algum tempo atrás, a UOL Notícias publicou um artigo comovente sobre um cachorro vira-latas que se mudou para o cemitério para ficar junto do dono que morrera. Ficava bravo quando alguém tentava chegar perto da sepultura. Uma daquelas histórias enternecedoras  sobre fidelidade canina que certamente Dekraai jamais entenderia. O apelido de Rambo dado para o cão foi inspiração do coveiro da cidadezinha do Paraná onde o fato aconteceu. Hoje li que o Rambo foi definitivamente adotado pelo Sidinei, o coveiro, e que vai morar, vivinho da silva, numa gaveta de sepultura no cemitério, abrigado das intempéries da natureza. A população vai ajudar a trazer comida, o cãozinho virou notícia e o Sidnei virou herói. Goste ou não de cachorro, a história emociona, ou como dizia minha mãe, “corta o coração.”
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Agora vem a parte psicofilosófica (?!). Como o coração da gente aguenta ler quase em seguida essas duas notícias? Não estou querendo comparar maldade daqui com maldade do Brasil, pois os enredos se invertem a todo o momento, a maldade é uma coisa universal. O Rambo do Norte gelou nossa alma, contraiu nosso peito e gerou uma tragédia humana. Daí, o Rambo do Sul consola nosso coração, faz-nos sentir como manteiga derretida. O que esta gente dos jornais pensa que a gente é? Que nosso coração é de borracha, estica e encolhe? Que nossa alma é feita de algum tipo de elemento que pode sofrer , num curto espaço de tempo, tão opostos sentimentos?
O que importa, no entanto, é que, por cima deste  vermelho de violência pintado pelo Rambo do Norte, nosso pequenino Rambo do Sul traçou umas pinceladas do verde da esperança e do azul do céu...
Sobre o Rambo do Sul:  UOL Notícias                       UOL: Rambo é "adotado"
Sobre o Rambo do Norte: Los Angeles Times
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 01/06/2012


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