Amor, Eterno Amor
Ao contrário do que alguns pensam, há coisas que não têm explicação. Uma delas era o amor que Mário sentia por Regina. Insensato. Absurdo. Sem sentido. Alguns até achavam que era uma doença, mas acreditem, não era não. Amor puro, verdadeiro, paixão sem limites, sem vírgulas ou ponto de interrogação. Só ponto de exclamação e ponto…final. Até a Regina, objeto de tal atenção, achava um exagero e às vezes se perguntava. Não a levem a mal. Ou era incompreensão ou até, quem sabe, uma certa inveja por não conseguir amar nos mesmos e estratosféricos níveis. Mário nem sequer pedia ou sugeria tal retribuição. No fundo sabia que ninguém era capaz de amar assim. Não sei se existe uma explicação para o que vou contar a seguir. No final desta história vou tentar uma solução metafísica, mas vai ser pura especulação.
O que aconteceu foi a inesperada morte de Mário. Um outro motorista, bêbado, encerrou os afazeres de Mário nesta vida. Podia ter matado um outro qualquer, inútil, mau caráter, bandido ou até um suicida que por definição já estivesse querendo morrer. Poderia ter ele mesmo morrido. Qual nada, saiu vivo do acidente e assassinou o maior amante vivo existente na terra. Que fazer? Nada além de chorar, lamentar, chorar de novo. Regina estava inconsolável. O amor de Mário era tão intenso que ela não se dera conta de que um dia ele pudesse desaparecer, quero dizer, ele, o Mário, não o amor. Isso mesmo. O evento passou, velório, funeral, e todos os seres ligados ao evento também voltaram à rotina da vida. Com o passar dos dias, no entanto, Regina percebeu que, embora Mário não estivesse lá, seu amor estava. Não estou falando figurativamente, não. Ela sentia o amor dele rondando na casa, nas coisas, no pensamento, em tudo que via, sentia ou tocava. A explicação lógica é que o ambiente da casa estava impregnado dele e as lembranças voltavam. Regina começou a sair e ir para lugares que eles não costumavam frequentar, só para testar. Puro engano, pois aquele amor incessante, arrebatador, envolvente e até intrometido, estava em todo lugar. Não era metafórico nem nada. Amor mesmo. Entrava com tudo na cabeça, no coração e na alma de Regina. Ela quase conseguia pegá-lo nas mãos, tão forte era sua presença. Regina, é claro, aceitou e se sentiu feliz por isso. Ao contrário dos amores comuns, esse aumentava ao invés de diminuir com o tempo. Junto com a força que ele adquiria, tornava-se também mais elaborado e mais sutil e portanto “suportável”, características talvez, do outro lado da existência. Senão, onde iríamos parar com tanto amor assim? E a vida continuou…
Fiquei devendo aquela explicação “metafísica” prometida acima. Talvez seja uma explicação esfarrapada, mas lá vai. Acho que como dizem as filosofias orientais, há um equilíbrio entre as coisas da vida. Ódio e amor, raiva e afeição, saudade e esquecimento, etc…O que seria do universo, se um dos lados começasse a preponderar? Haveria um desequilíbrio cósmico. O amor de Mário era tão forte que houve um princípio de desestabilização. Necessário se fez tirá-lo do cenário.O que iríamos fazer com tanto amor por aqui? Por outro lado, o outro motorista, irresponsável, bêbado, também estava começando a pesar muito do outro lado. De repente teve de sentir um enorme remorso pelo que fez, o que também também equilibrou as coisas no setor.
Não sei se eu mesmo acredito nessas explicações, mas que o amor de Mário era enorme, isso é verdade, e não duvidem não…
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 01/06/2012
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