Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Paixão de Astronauta
 
Num futuro distante, numa fantástica nave  espacial, um astronauta da Terra viaja numa missão inédita. Vai estabelecer uma base num ponto longínquo do universo. O projeto é de vinte anos pois o tempo de viagem é longo e a missão inusitada. Sono profundo em boa parte do roteiro garante economia de oxigênio e equilíbrio psicológico. No tempo que resta, trabalho, trabalho, computador e…o pensamento que voa. Nessas horas intermináveis é que ele se lembra dos sons da Terra: o gorjeio dos pássaros, o murmúrio das pessoas, vozes de crianças, cantos, o barulhinho de água correndo, os cães latindo ao longe, o barulho dos pés  na calçada, o trovão,  sons, sons e sons…
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Sentiu saudades e falta de tudo. Lembrou-se também do verde dos bosques, do azul do céu e das águas límpidas do oceano. Lembrou-se ainda do colorido das coisas, do vermelho e amarelo das flores, das peles dos animais, dos incríveis matizes dos pássaros. Vieram também à sua mente nuvens cortando ligeiras o céu, a imensidão do espaço, as noites com estrelas e até mesmo a lua. Lembrou-se de detalhes até corriqueiros, como  o cheiro do café pela manhã, o ruído quase imperceptível dos modernos veículos, o aroma dos pães da nova lanchonete estilo século vinte que abrira na esquina e de de outros mil detalhes. Os psicólogos haviam feito tanta preparação para que os astronautas não tivessem esse tipo de sensação…Mas o que posso dizer? O nosso astronauta foi atacado por esta nostalgia profunda. Lá, no espaço infinito, ele se apaixonou totalmente pelo seu planeta. Se ele fosse brasileiro e acreditasse em Deus, ele poderia recitar um dos versos de 
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Gonçalves Dias: “Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá…” 
Mas nessa época não havia mais nações, nem Brasil, nem nenhuma outra, só  a “Grande Confederação” e muitos haviam substituído Deus por um fanatismo pela ciência e pela tecnologia. Entretanto o que ele estava sentindo – bastante condenado pelos psicólogos ultra-modernos – não era nada mais nada menos, aquilo que chamamos atualmente de paixão. Isso mesmo, o nosso personagem, o astronauta do futuro, foi atacado de maneira irreversível e fatal por esse sentimento ultrapassado. Estava perdida e loucamente apaixonado pelo Planeta Terra.

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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 15/04/2012


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