Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

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1958: Os heróis daqueles tempos
 
Eu sabia, apesar de criança, que algo muito especial estava acontecendo. Não havia nada de concreto, nada que eu pudesse, com minha cabecinha infantil, entender e falar. Um clima festivo podia ser notado no ar, nas ruas, em todo o lugar.
Em casa, além de nós, havia outras pessoas circulando, falando, sorrindo. No rádio, uma caixa de madeira envernizada, havia uma luzinha verde, redonda, que mudava de intensidade a todo momento. O locutor falava animado, explicava. Minha mãe preparava alguma comida gostosa, um cheirinho danado de bom. Todos, sem exceção, estavam felizes. Passava gente pela cozinha, pela sala, a casa era de todo mundo.
Depois começou uma coisa mágica. O homem do rádio começou a falar animado, às vezes muito rápido, às vezes gritava. Sua voz parecia vir de longe, não sei se era a transmissão ou minha memória que agora me falha. Eu não entendia nada, mas me lembro de que ele falava uns nomes que eu conhecia: Didi, Vavá, Pelé, Garrincha, Zagalo. Ele repetia tanto esses nomes, que parecia mais a escalação do time, do que a narração do jogo. Alguém, um dia, me falou com raiva, que ele repetia tanto o nome dos nossos heróis porque ele nem sabia pronunciar os nomes dos suecos. Eu acho que é mentira. Eu acho que só nosso time pegava na bola mesmo. Como foi que nós ganhamos de 5 a 2?
Eu fui contagiado pela emoção, todo mundo torcia, todo mundo vibrava. Eu nunca vi um povo tão feliz. Foi então que eu entendi que nós éramos um povo louco por  futebol. Era o dia 29 de junho de 1958, final da Copa do Mundo na Suécia, e eu morava em Perus.
Tudo isso foi antes da Revolução e de tantas outras coisas mais que aconteceram em nossa terra. Cansei de discutir, de opinar quem tem e quem não tem razão. 
Naquela hora, para mim e para todos que estavam lá, o Brasil era o maior país do mundo, o melhor, o mais importante. Não sei direito o que aconteceu depois, não consigo entender. Acho que até desisti. Talvez tenha sido tudo uma  ilusão de criança. Às vezes, porém, me dá uma saudade doída e doida daqueles tempos...

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À procura de Lucas

 

 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 18/06/2018
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