Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

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Éramos sete
 
Não sei como aconteceu, mas subitamente lá estávamos nós sentados em círculo numa enorme sala, toda pintada de branco. Nossas cadeiras, de madeira envernizada e acolchoadas com um tecido com temas de folhas se destacavam diante de ausência de mais cores. Nossas roupas eram parecidas, mas não eram iguais. Não me lembrava como tinha chegado ali, apenas sabia que minha vida não tinha nada a ver com aquilo e estava diante de uma situação excepcional.
Diante do silêncio dos outros seis – éramos sete – tentei falar alguma coisa. Perguntei, quase murmurando, se eles sabiam onde estávamos. Olhei para eles e ninguém se mexeu, ninguém falou nada. Logo depois, porém, percebi que estavam respondendo. Sem som, sem ruído, estavam se comunicando através do pensamento. E eu podia saber exatamente quem estava falando e o quê. Basicamente a resposta de todos era a mesma. Como eu, não tinham a menor ideia de que lugar era aquele, como tinham ido parar ali. O terceiro à minha esquerda me perguntou silenciosamente de onde eu era. Respondi que era de São Paulo e, mesmo sem que eu perguntasse, ele me disse que era da Hungria Mostrei minha admiração pelo fato de que ela falava Português, ao que ele respondeu que não era o que ele estava falando.  E assim todos foram falando de onde eram e a língua não importava, todos entendiam em suas próprias línguas. Depois de algum tempo conversando, todos nós concordamos que precisávamos sair dali, voltar às nossas vidas normais. Foi, então, que algo extraordinário ocorreu. Alguém disse que sairíamos dali assim que todos os sete dessem a mesma resposta para as perguntas que iriam ser feitas. Não era nenhum de nós falando. Certamente era a pessoa ou ser responsável por estarmos ali.
A primeira pergunta que ele fez foi qual era a cor mais bonita. Imediatamente falei que era o azul. Mais dois falaram a mesma cor que eu, outros dois disseram amarelo e os dois restantes optaram pelo vermelho. Nossas respostas vinham sempre ao mesmo tempo e só depois percebíamos o que os outros tinham falado. E as perguntas continuaram. Qual o sentimento mais bonito? Qual o tipo mais desprezível de homem? Qual a qualidade mais importante da mulher?
Nunca conseguíamos ter as mesmas 7 respostas. Aquilo estava nos exasperando. O máximo a que chegávamos era ter seis iguais.
Muito tempo se passou e ainda estamos aqui. Mal nos conhecemos, estamos juntos todos os dias, o tempo todo tentando igualar nossas falas. Eu, particularmente, desisti completamente de voltar para o lugar de onde vim. Na verdade, nem me lembro mais de onde vim. Se um dia, por um grande milagre, conseguirmos, nós sete, falarmos a mesma coisa, acho que, voltando, nem vou reconhecer o meu ponto de origem.
 
De qualquer jeito, todos nós respondermos do mesmo jeito, é algo que nunca vai acontecer. É um fato consumado, já aceitei. Talvez se fôssemos 5 ou 3, tivéssemos alguma chance, mas sete? Por que sete? Acho que é porque está na Bíblia, é um número sagrado. Um número divino: sete pragas, sete pecados, sete virtudes. Talvez seja isso mesmo. Somos humanos, nunca vamos conseguir!
 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 19/08/2016
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