Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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Nome do pai, nome do santo
 
Meu irmão mais velho, quis meu pai chamá-lo de José. Embora simples e comum, tinha um significado enorme que, certamente, meu pai quis documentar. Era o nome de meu avô. Sendo o santo um marceneiro há muito tempo atrás, fazia ainda mais sentido, uma vez que essa era também a profissão do “seu” Bonifácio.
Veio então o segundo filho, meu irmão do meio. Nasceu, vejam só, bem no dia de São Paulo, o santo que deu o nome à nossa cidade. Minha mãe, católica fervorosa, imediatamente, decidiu o óbvio. Poderia haver sinal mais evidente do que deveria ser feito?  Paulo seria seu nome, não haveria discussão. Meu pai não era homem de discutir. Talvez tenha apenas comentado com ela que seria apropriado, depois de já ter sido homenageado o meu avô, o segundo rebento ser chamado Bonifácio, nome do progenitor. Coisa mais do que evidente, não era mesmo? A Dona Eleta, certamente achava que as coisas do céu, especialmente quando manifestadas assim, de maneira tão óbvia, deveriam vir antes. Teve início uma batalha surda. O “São Paulo”, patrono da capital e o outro – santo também – “São Bonifácio”, um daqueles antigos, homenageado com o nome de meu pai.
A dúvida ficou, nada foi decidido. Na cabeça de minha mãe, certamente estava tudo acertado. Imagine você, o menino nasceu no dia de São Paulo, 25 de Janeiro, precisa dizer mais alguma coisa? Ela, porém, tinha de cuidar da criança. Não havia fraldas descartáveis ou qualquer outra facilidade naquelas remotas épocas. Um trabalho duro, de concentração. Não tinha tempo para cuidar do assunto.
Alguns dias depois, meu pai aparece com a certidão de nascimento. Bonifácio era o nome do garoto. Bonifácio, que em Latim quer dizer, “fazer o bem”. Tinha um sorriso no rosto e o orgulho no peito. Minha mãe também não era de reclamar. Tenho certeza, no entanto, que ficou magoada. Onde se viu? Deixar assim, de lado, o nome do santo da cidade?
Por conta própria, começou a chamar o meu irmão de Paulo. Uma espécie de insubordinação. Quem diria, a humilde Dona Eleta. Verdade é, ela tinha a proteção dos céus na matéria. Pequenino, todos começaram a chamá-lo de Paulinho, imitando seu chamar. Mãe é mãe.  E o nome pegou e ficou. Vale uma explicação. Dentro de casa, dentro da família, era Paulinho. Lá fora, no mundo, na legalidade, era Bonifácio. Coisa justa, ficou meio a meio. Mas fica aqui, entretanto, um aviso. Não discuta com mãe que tem fé. Ninguém vai lhe roubar o nome do santo, nem seu marido, nem ninguém.
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 24/05/2015
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