Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

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Os gêmeos dos gêmeos

Dimitri estava sentado, junto com centenas de outros, no grande anfiteatro esperando pelo início da meia hora de treinamento que sua companhia oferecia toda semana. A Smart Cylinders Enterprises era fabricante de cilindros quânticos para armazenamento de dados. Os trabalhadores ficavam todos em círculo, ao redor de um pedestal que tinha uma esfera de cerca de 2 metros de diâmetro no seu topo. Ela ainda estava inerte, mas a qualquer momento começaria a girar e, instruções, em forma de raios invisíveis, se projetariam em seus cérebros. Era uma sensação até agradável e a maioria gostava daqueles momentos. Após o tempo necessário, uma série de normas e novos procedimentos estariam inseridos em seus neurônios.
Enquanto esperava, Dimitri estava pensando em seu trabalho, quando algo chamou sua atenção. Na fileira à sua frente, havia dois funcionários vestidos exatamente da mesma forma. Tinham dois bonés exatamente iguais e uma roupa de um tecido que parecia feito de fibras metálicas. Ambos tinham uma marca característica na orelha esquerda. O pouco cabelo que podia ser visto, era da mesma cor e textura. Aquilo chamava ainda mais a atenção, pois a individualidade era ma regra e orgulho da empresa. Eles eram contra uniformes, contra códigos de roupas e coisas assim. As características individuais precisavam ser preservadas, uma vez que a produção, em si mesma, já era bastante repetitiva e cansativa. Assim, os funcionários pelo menos teriam o direito de preservar sua maneira de ser. Talvez fossem gêmeos, pensou Dimitri. Ainda assim, seria estranho. Outro dado que chamava a atenção era o boné que usavam. Nunca tinha visto ninguém usando um daqueles antes, quase brilhante, feito de um material que não dava para ser identificado.
Dimitri procurou desviar a visão dos dois. Para sua surpresa, mais à direita viu outros dois, exatamente iguais aos primeiros. E mais dois, e mais dois... De repente, se deu conta de que eram todos perfeitamente iguais. Todos naquele anfiteatro. Lembrou-se de olhar para si mesmo e, com surpresa, viu que usava a mesma roupa de todos. Se tivesse um espelho, poderia conferir se seu rosto também era igual. No fundo, não precisava. Àquela altura ele tinha certeza de que ali estava um enorme grupo, uniforme, cópias exatas uns dos outros. E ele era apenas mais um deles.
Foi então que ele sentiu uma espécie de picada na nuca, como se alguém tivesse lhe aplicado uma injeção. Vieram alguns homens com roupas especiais, colocaram-no em um carrinho que tinha se aproximado por um dos corredores e o levaram embora.
Enquanto dois especialistas o examinavam em uma sala especial, um outro, que parecia ser o chefe, perguntou:
-O que aconteceu?
-Ele perdeu o sensor de individualidade. Por algum motivo, ele falhou.
-Você está querendo dizer que ele viu como eles são de verdade?
-Exatamente. Viu todos exatamente como nós os vemos.
-Isso não é nada bom. Vamos precisar desativá-lo permanentemente?
-Acho que não. Podemos deletar as lembranças de sua memória e reinstalar o sensor de individualidade.
-Não se esqueça de notificar a companhia que forneceu esses clones. Não quero mais incidentes como este.
-Claro, não tenha dúvida de que é exatamente isso que vamos fazer.
No dia seguinte, Dimitri estava trabalhando novamente na linha de montagem. Lembrava-se vagamente de ter sonhado com um verdadeiro exército de homens com uniformes metálicos, uma espécie de capacete de fibras também metálicas. Com o tempo, foi se esquecendo do “sonho”.
Na sala de comando, Antonov, que tinha “consertado” Dimitri, brincou com seu colega, ao falar sobre o ocorrido:
-Pensando bem, até eu gostaria de ter esse sensor de individualidade que cria aparências distintas para cada clone. Nunca me acostumei com essa visão todos os dias. Essa multidão de clones, exatamente iguais, bem junto a nós. Fico pensando... E se um dia resolverem se reunir contra nós? Nos atacar?
Seu colega riu da observação e respondeu:
-A gente se acostuma com tudo. Eu já me acostumei há muito tempo.

No gigantesco salão de montagem, aquela massa enorme de funcionários, todos exatamente iguais, repetia operações também iguais, como se fossem robôs, indiferentes a tudo que se passava à sua volta. Tudo tinha voltado ao normal. Os clones se sentiam como indivíduos normais, com suas próprias características, com sua própria maneira de vestir. Eles se sentiam como gente, como todos nós.

 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 06/03/2015
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