Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos


Se eu morrer amanhã


Se eu morrer amanhã,  e tiver que ficar em frente ao Criador, acho que não vou ficar muito preocupado. Primeiro, porque acho que não fui tão mau assim. Claro, besteiras todos nós fazemos. Em segundo lugar, o tamanho das besteiras depende dos olhos de quem as vê. Para Ele sequer pensar em mandar alguém para as chamas malditas, vou lhe dizer, precisa ser uma besteira muito grande. Ademais fiquei pensando...Olha esse universo absurdo que nos cerca. Bilhões de estrelas, muitas mil vezes maiores que o nosso céu. Ainda por cima, existe gente que desconfia que há outros universos que não conhecemos. Francamente, acho que Ele não teve tempo des e preocupar com uma  coisa tão vulgar como o inferno. Claro, existem aqueles monstros horríveis, assassinos cruéis,  bem que eles precisariam de um grande castigo. Acho que, na verdade, eles são um erro de fabricação da natureza, e simplesmente, o Criador os manda de volta para remanufaturar.


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E se não existir nada depois da morte? Deus pode existir, mas pode ter nos criado só por um tempo limitado, o tempo aqui da terra. Já pensou nisso? E aí?
Ainda assim não faz mal. Fico me lembrando de tantas pequenas coisas, tão maravilhosas, que cada uma, por si só, já valeu a pena.
 Aquele sorriso gostoso que recebi da mulher amada em 1969. Tantos outros sorridos gostosos, sinceros, honestos, recebidos aos longos dos anos, de tanta gente boa. Quantas alegrias inusitadas, por pequenas e grandes coisas, que foram acontecendo ao longo da existência. O cheiro de café que eu sentia, quando criança, ao entrar na venda de meu avô. Quando entrei na faculdade. Quando li o primeiro livro do Machado de Assis. E o Grande Sertão: Veredas, do Gumarães Rosa? Os poemas da Cecília e do Mário Quintana. Quando dei a primeira aula. Quando tive meu primeiro fusquinha, azul, 1967. As flores, de todas as cores, tantas que eu vi. Quantos aromas, deliciosos, divinos...O cheiro da comida que minha mãe preparava. Pimentão, alho e cebola fritando para depois temperar o feijão. As garotas do colegial. O perfume da Cecília, quando ela passava...O rostinho da loirinha, cujo nome nunca soube. A morena do trem, o amigo zeloso, sempre pronto para ajudar. Minha família...
São tantas pequenas coisas, que, juntas parecem maiores do que esse céu enorme que vejo à noite. Quem quer que tenha feito tudo isto, muito obrigado! Nada mais é preciso, se vier, é lucro. A minha eternidade foi a minha vida!
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 14/04/2013


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