Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

Chove chuva, chove sem parar

 
O senhor Mendes sabe falar inglês muito bem, é um excelente representante comercial e precisa viajar. Vai para todo lugar: Nordeste do Brasil, América do Sul, Europa, Estados Unidos...Já se acostumou. Sempre existem os dois lados da  moeda. É sempre bom conhecer novos lugares, “sentir” outras culturas, ver as coisas de um outro ponto de vista. Por outro lado, a saudade é uma coisa cruel. Quando você está muito tempo fora, às vezes ela vem sem avisar e dói...Eu sei. A sua terra é cheia de defeitos, de coisas absurdas, mas...você sente falta. Era assim que Mendes estava se sentindo naquele dia. Chuva, muita chuva. Afinal de contas, ele estava em Seattle, o que poderia se esperar?
downtown+seattle.png
Pelo menos, o dia estava acabando. Uma última tarefa e, definitivamente, bem fácil. A entrevista que ele havia programado não iria acontecer. O diretor da firma estava viajando e tudo que ele tinha de fazer era deixar os catálogos com a secretária. Assim que ele cumpriu a “difícil missão” na “1st Avenue”, andou dois blocos e entrou numa cafeteria. Pegou um café, sentou-se junto a uma mesa e olhou para fora. A chuva havia aumentado um pouco, as pessoas se apressavam. Era bom estar ali, aquele aroma gostoso se espalhando pelo ar. Pensou um pouco na vida. Valia a pena estar sempre viajando, longe das pessoas amadas? Uma pequena tristeza invadiu seu coração. Ali, tão longe de casa, pessoas diferentes, coisas diferentes, cultura diferente. Por uns instantes pensou em tudo que por dois meses deixara para trás.
cafeteria.png
Estava absorto em seus pensamentos, em suas lembranças, quando, de repente, começou a ouvir um som que parecia familiar. Era o Jorge  Ben cantando: “Chove chuva, chove sem parar...”  eu sei que eram as circunstâncias, Mendes estava sozinho, há muito tempo fora...E de repente, ali, noutro país, aquele som gostoso, conhecido. O fato é que ele estava emocionado.
Aquele momento transformou-se em magia. Foi um bálsamo para a alma, um remédio para a dor, uma alegria para o coração...O Mendes se deliciou. O Jorge Ben cantou a música até o fim e ele não perdeu uma só nota, uma só sílaba. De todas as reuniões e compromissos da viagem, aquele encontro foi o mais importante e..inesquecível.
 
 
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 15/12/2012


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras