Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

O Casamento
Dan e Jessi moravam juntos há 11 anos. Parecia um conto de fadas. Muito amor, muito carinho.  Tinham até uma filhinha de 5 anos, a Trisha. Faziam quase  tudo juntos. Para lá e para cá, sempre de mãos dadas.  As amigas tinham até inveja e os amigos desconfiavam. Um dia, Susan, uma das amigas de Jessi, perguntou para ela por que Dan não se casava com ela, já que a união era tão estável? Sabe, a menina precisa de um pai “oficial”... Para que, retrucou Jessi, se somos felizes assim? Outro dia foi a vez de Betty. Não entendo por que vocês não se casam, já que estão juntos há tanto tempo. Respondeu Jessi que estavam bem assim, que não era necessário. Não, ela não ligava não que a união não era legalizada. Volta e meia alguém falava alguma coisa. Que gente xereta, sempre se intrometendo na vida dos outros, pensava Jessi. Um dia comentou com Dan os  falatórios das amigas, que gente chata, intrometida! Dan concordou e disse que também um amigo dele, o Rick, fez um comentário. As pessoas adoram se meter na vida alheia, concordaram.
O tempo passou, pelo menos mais um ano. Cada amigo ou amiga nova, depois de um certo tempo – quando adquiriam uma certa intimidade – vinha com a mesma história. Por que....? Um dia Jessi  falou para Dan, que se ele achasse bom, talvez, quem sabe, poderiam se casar. Pelo menos as pessoas e os parentes parariam de “encher a paciência”, para não dizer outra coisa...Ele não estranhou, disse quem sabe, vamos pensar. Um mês depois, ele falou para Jessi que se ela quisesse, tudo bem, poderiam se casar.
Combinaram uma data, um lugar, contrataram os serviços, a igreja, o bufê. Uma nota! Tiveram de fazer empréstimo. Bom, se é para casar, vamos fazer bem feito! Muita alegria, muita preparação, chegou o dia, muita festa. Uma felicidade, um acontecimento. Até lua de mel aconteceu. A Trisha não gostou muito pois teve de ficar uns dias com a avó.
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Voltaram da viagem e a vida recomeçou. Trabalho, serviço de casa, rotina. Estava tudo bem. O primeiro mês foi muito duro, tinham dívidas para pagar: aquelas do casamento. Os dois pegaram horas extras, foi muito cansativo. O segundo mês foi ainda mais duro, porque já estavam cansados do primeiro. No terceiro mês, deram uma folga, pularam alguns pagamentos. No quarto mês, horas extras de novo, mas aí as dívidas eram maiores e havia juros e as companhias começaram a telefonar e fazer cobranças. Os dois estavam irritadíssimos. Um dia discutiram, não foi uma briga muito feia, mas foi triste. Afinal, eles não estavam acostumados a brigar. Beijinhos, desculpas, nós vamos sair dessa. Passou mais algum tempo e não saíram. As dívidas aumentaram. Afinal haviam gasto mais do que podiam. Nunca deveriam ter ouvido a conversa dos outros. Um dia a briga foi feia. Falaram coisas, um para o outro, que nunca haviam falado. Uma nuvenzinha se instalou nos corações dos dois. Depois de algum tempo as nuvens aumentaram e virou uma tempestade. Agora, era briga quase todo dia. Saía até palavrão. Você pode imaginar? Dan e Jessi  falando palavrões?
Os dois se conheciam tão bem que não precisaram conversar muito para chegar à conclusão que a única saída era o divórcio. Não tinham nada para dividir, só as dívidas. A Trisha ficaria um pouco com cada um. O estranho que nessa fase nenhuma amiga ou amigo chegou para conversar, dar conselho. Fofoca, é claro, havia muita. Era o assunto predileto nos intervalos de trabalho.
Foi assim que terminou o o relacionamento de Den e Jessi. Sinto muito se você esperava um final feliz. Para dizer a verdade nem sempre há um final feliz. Para ser  franco mesmo, muitas e muitas vezes não há um final feliz.

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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 30/05/2012


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