Flávio Cruz

Esse estranho mundo...

Textos

James Bain, 35 anos de solidão

 
Pode ser que você nunca ouviu falar de James Bain. Realmente ele não é muito conhecido. Deve ter agora 56 anos e vive em Lake Wales, Flórida. Em 1974, aos 19 anos de idade, James foi acusado de estuprar um menino. Segundo o garoto, o criminoso era um afro-americano e tinha costeletas. Cidade pequena, o xerife conhecia um James de costeletas. Preso, sem dinheiro para um bom advogado, cidade pequena e provavelmente ( não posso garantir, apenas um “feeling”) um grupo de jurados preconceituosos, tudo junto, condenaram o jovem a um tempo interminável de prisão. Naquela época não havia teste de DNA, obviamente, e o testemunho do garoto confirmando que era ele,  mais  o parecer de “experts” incompetentes, inclusive um funcionário do FBI, destruíram a vida daquela pessoa, cheia de sonhos. Ele nunca tinha tido passagem pela polícia, estudava, estava no segundo grau. Todos queriam um culpado, é claro. Alguém tinha de pagar pelo crime hediondo, e rápido. Fico imaginando um rapaz de 19 anos, indo para a cadeia, todo mundo achando (inclusive amigos) que ele era um estuprador. É difícil avaliar o medo, a vergonha, o pavor que ele sentiu. Talvez tivesse tido um pouco de esperança de que descobrissem o verdadeiro culpado, de que a justiça fosse feita. Passou trinta e cinco anos na cadeia, contando cada segundo, pensando sei lá o quê. Claro, sua mãe sempre acreditou nele e esperava vê-lo livre um dia. Mas nunca teve uma chance, nada de condicional, nada de perdão. Por quatro vezes tentou-se a libertação de James através dos testes de laboratório, mas sempre lhe negaram a chance. Finalmente  quando o “The Innocence Project” assumiu o caso, ficou provado que ele era completamente inocente, com um teste feito em Connecticut.
Uma pequena festa quando ele saiu da prisão. Muito pequena perto dos intermináveis 35 anos. Na saída, em frente ao prédio, na presença de câmeras de televisão, uma repórter lhe estende um celular, para que pudesse falar com sua mãe , na cidade de Tampa. Olha para o aparelho, sem entender muito, mas leva-o ao ouvido, porém do lado contrário. Alguns risos, brincadeiras. Mas aquele celular é o símbolo de tudo que ele perdeu nesses anos todos. Perdeu tudo, e ainda assim, em algumas entrevistas posteriores, disse que entende porque isto aconteceu. As pessoas estavam revoltadas, diz ele, entendo porque queriam condenar alguém. Não, não tem raiva de ninguém, o que passou, passou.
Não posso deixar de comparar este caso com o de O.J. Simpson aqui e com outros de impunidade em nosso próprio país.
Se houvesse prêmio Nobel de “paciência”, de “resignação”, ou qualquer coisa assim, ele com certeza, teria direito. Mas espera aí ...James Bain, rapaz de cor, de costeletas, em Lake Wales? O que você esperava?
Ele tem uma alma boa e não consegue desabafar, mas no seu lugar eu digo que um “tribunalzinho”, mais um advogado de defesa de terceira classe, mais uns jurados (o adjetivo deixo para você, leitor) e um juiz incompetente fizeram um crime muito maior do que o que estavam julgando.
Desculpe-nos, James Bain! Pelo menos mais algumas pessoas ficarão sabendo do seu caso.
 
P.S. Há diversos casos de pessoas que foram liberadas nos Estados Unidos através de testes de DNA depois de muitos anos de prisão. James Bain, no entanto, foi quem ficou mais tempo encarcerado. Casos mais graves que o de James Bain, certamente existem, mas provavelmente nunca vamos ficar sabendo: são os casos de prisioneiros condenados à pena de morte e que foram executados (nunca vamos ficar sabendo quem ou quantos...)
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Aos 19 anos quando foi "fichado"...
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James, agora...
 

 

Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 11/04/2012
Alterado em 11/04/2012


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